terça-feira, 25 de novembro de 2008

A importância de ouvir, falar, ler e escrever para a aprendizagem

Antes mesmo do nosso nascimento, a mãe, geradora da vida, já nos envolvia no mundo da linguagem, ou quando conversava conosco em seu ventre, em momentos de emoção, ou quando nos proporcionava carinho com meigas melodias e músicas e, até passando sua mão sobre a barriga. Todas as sensações eram vividas por nós, o feto intra-uterino. Uma vida que se envolava a partir de outra vida. Ao nascermos, a audição foi sendo aguçada e estimulada, pela voz da mãe, do pai e das outras pessoas que nos cercavam. Ouvir passou a ser estímulo ao ato da fala. Ouvir e falar são os antecedentes do mundo da leitura e da escrita. Estas atividades humanas que pressupõem as nossas relações com as outras pessoas: ou a oralidade, ou a escrita. Há quem defenda a concepção de que a linguagem é comunicação, o exercício da língua que falamos. Outros defendem a concepção de que a linguagem é a expressão do pensamento humano, mas este também pode ser exteriorizado por meio dos gestos, como o é para os mudo-surdos, mas para os analistas do discurso, a linguagem é interação humana, pois é por meio dela que nos interagimos com o Outro. E quem é o Outro? Para entendermos quem é esse Outro, devemos compreender que a Linguagem pode ser oral ou escrita: uma relação entre o sujeito que fala ou escreve com o sujeito que ouve ou lê. Ao assistirmos a televisão, o(s) seu(s) Outro(s) são os atores, os repórteres, os jornalistas, os apresentadores. Se você está lendo um texto escrito, seja no jornal, na revista, no livro da escola, no cartaz publicitário, no outdoor, na placa do trânsito, o Outro está representado pela pessoa que o escreveu, que enunciou o discurso escrito. Em ambos os casos, houve linguagem, pois aconteceu a interação humana entre um emissor e um receptor: de quem falou com quem ouviu, de quem leu com quem escreveu e num só código, a Língua Brasileira. Estudar a nossa língua pressupõe essa competência para saber falar, saber ouvir, saber ler e saber escrever com clareza e fluência para que qualquer leitor ou ouvinte da mensagem possa de fato compreendê-la. Vejamos: eu estou aqui agora teclando em meu computador, escrevendo sobre este assunto, que você irá ler. Neste caso, eu sou a emissora e você é meu receptor. Eu não sei quem você é, mas escrevi para que você com capacidade leitora e tantos outros possam ler e compreender o que estou falando, digo, escrevendo. Paulo Freire escreveu e proferiu em palestras, que antes da leitura da palavra, o homem já traz para a escola, seja adulto analfabeto ou criança ainda não alfabetizada, a leitura do mundo, que tem sua origem nas experiências de vida. Muitos homens e mulheres, por exemplo, nunca estudaram, não sabiam ler e escrever, mas sabem contar, sabem identificar uma dúzia, fazem leitura de placas. A leitura não envolve somente a leitura da palavra escrita, mas também dos gestos, das expressões faciais, dos símbolos, dos desenhos, da pintura, da escultura, da arte como um todo. A semiótica que é a ciência que investiga todas as linguagens possíveis tem como objetivo o exame dos modos de constituição de toda e qualquer linguagem seja artística ou não, como fenômeno de produção de significação e de sentido. Então, se você boceja durante uma missa ou culto, abrindo a boca, quem está do seu lado vai interpretar que você está com sono. Se o seu filho chega correndo na sala e você está com uma visita importante, mas sem perceber ele entra chorando e gritando palavras grosseiras, você dá aquela olhada de lado fecha o semblante e seu filho logo entende que você não gostou do comportamento dele. Um quadro, uma pintura, um filme no cinema ou na televisão, tudo que seja representado pela arte, pela oralidade ou pela escrita são objetos de estudo da semiótica. Os seres humanos só falam bem e escrevem bem, quando lêem ou escutam bons textos e discursos, com a linguagem da norma culta da língua. O adolescente que só fala gíria, que não lê e não escreve constantemente, não poderá, por conseqüência, produzir bons discursos orais ou escritos. A linguagem bem escrita e bem falada só advém do leitor e do ouvinte de linguagem bem elaborada tanto na oralidade como na escrita. Ler jornal significa estar informado por meio da leitura, que busca levar ao leitor uma linguagem clara e possível de ser compreendida. LEIA sempre, mas leia bons textos e se ocupe em ouvir pessoas que falem bem, porque inconscientemente irá assimilando bons discursos que resultarão na concordância e regência das palavras da sua oralidade e escrita. 

Shirlene Álvares é professora universitária de Língua e Literatura Brasileira, Contadora de Histórias do Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte” e do Grupo GWAYA. e-mail: shialvares@gmail.com

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