quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Provérbios

O USO DO CACHIMBO É QUE ENTORTA A BOCA.

QUEM TEM BOCA VAI À ROMA.

FILHO DE PEIXE, PEIXINHO É.

A NECESSIDADE É QUE FAZ O SAPO PULAR.

PARA TODO PÉ TORTO EXISTE UM SAPATO VELHO.

BOI NA TERRA DOS OUTROS BERRA COMO VACA.

QUEM MUITO QUER, TUDO PERDE.

QUEM FOI REI, SEMPRE SERÁ MAJESTADE.

DEIXA ESTAR JACARÉ, QUE A LAGOA HÁ DE SECAR.

NEM TUDO QUE RELUZ É OURO.

O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE.

CADA MACACO NO SEU GALHO.

MATO TEM OLHOS E PAREDE TEM OUVIDOS.

SAIU DO ESPETO, CAIU NA BRASA.

domingo, 19 de outubro de 2008

Trava-línguas

Vamos treinar:

A condessa Clarissa da Prússia pensou que era pássaro. Atravessou o espaço e foi até a Rússia sem bússola.

O palhaço dentuço, com a calça do avesso, pra fazer bagunça, teve um acesso de tosse, tropeçou no cadarço, deu um passo em falso e caiu nos braços da moça russa.

O gaiteiro Garibaldi guarda a gaita e gargalha com graça se vê a graça da Graça engraçando toda a praça. 

A Ciça foi até a praça comprar lingüiça pro almoço.

Na pressa tropeçou no cadarço, caiu na poça, ralou o braço e chorou à beça.

O príncipe Petrônio prometeu casar com a princesa Priscila na primavera. Ficou com preguiça, trocou de projeto. A princesa, braba, contratou a bruxa Petronilda pra transformar o príncipe Petrônio em grilo do brejo.

A jibóia, sem juízo, dirigiu a jamanta do Jamelão até Genebra pra jantar com o Jacobino. Há três trecos tristes: treta, trapaça e tramóia.

A Flora do seu Floripes fabrica flores fabulosas e faz fortuna vendendo flores, vendendo rosas, na feira das sextas-feiras.

Gelatina de jiló com gemada e geléia de jerimum com gengibre. - De jeito nenhum! Fico em jejum!

A sobrinha da cegonha fez a façanha de tomar champanha e comer lasanha com um calcanhar na Alemanha e o outro na Espanha.

No início do itinerário um índio viu o rio e viu a Iara e riu que riu olhando a Iara, olhando o rio. O rato roeu a roupa do rei de Roma.

O chinês chique, de chapéu chocante, chegou com um bicho de luxo. Escorregou na graxa, se esborrachou no chão, machucou a coxa. Chocado, teve um chilique, chutou o lixo e xingou o chão.

A cruel criatura cometeu um grande crime: entrou na casa e devorou três vitrolas, pegou trinta pregos no vitrô, trançou o tricô da Cremilda e estragou treze tortas de creme. Credo!

O grilo gritou com voz grossa: - Griselda, você é uma graça!

Pedro jogou uma pedra preta no primo do padre. A pedra quebrou o prato da tia Prudência. Na pressa pra se livrar, tropeçou, se prendeu no prego. Tia Prudência, braba, brigou, e o prestígio do Pedro foi pro brejo. Pobre Pedro.

Fragoso, neto da mariposa Luísa, ficou confuso pra escolher esposa. A Rosa era mimosa mas preguiçosa. A Teresa, de grande beleza, mas dava despesa. A Ardósia era formosa mas melindrosa. Por fim, casou com a Beatriz, que tinha uma cicatriz no nariz e o fez muito feliz.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O sexo no casamento


Dizem que é verídica... Isso aconteceu no RS (na cidade de Amaral Ferrador). Conheceram-se no casamento do primo Tavinho. Apaixonaram-se e, 4 meses depois, resolveram casar. Duzentas pessoas compareceram à pequena igreja. O padre, visivelmente cansado da viagem, e com a batina amassada começou o sermão:
- A data de hoje é muito importante... Duas pessoas que se amam e se respeitam vão unir-se aos olhos de Deus... Assim como o respeito e o companheirismo, o sexo também é fundamental para uma aliança duradoura.
Os convidados se entreolharam em silêncio, pensando que ia ser só uma menção sob a ótica da procriação.
- O sexo bem feito pode segurar o homem em casa e garantir também a fidelidade da mulher...
A mãe da noiva aperta forte a mão do marido.
- Marcelo, você deve respeitar a vontade da Tatiana quando ela não quiser ter relações... Mas isso não deve ser motivo para desgastes... O que eu sempre recomendo, nessas horas, para meus fiéis, é o prazer solitário... Que dá maiores resultados quando se passa um creminho na face interna da mão. Os convidados reprimem o riso. A mãe da noiva começa a suar dentro do vestido mostarda alugado. O pai ameaça interferir, mas se coloca no seu lugar de cordeiro de Deus e relaxa.
- Tatiana, você não deve se conformar só com a posição "papai e mamãe". Ser ativa, no matrimônio, também é muito importante. Quando seu marido chegar cansado do futebol, por exemplo, você deve ficar por cima dele. Essa posição, além de dar uma folga para o esposo, também é excelente para que a mulher atinja o orgasmo, já que o contato do clitóris com a pélvis do marido é mais intenso. Se você, Marcelo, tiver um pênis muito avantajado, e que Deus o conserve assim, é conveniente que vocês escolham fazer amor de lado. Assim, você evita machucar a sua companheira, sem perder o prazer.
Os convidados deixaram o riso transbordar como água num dique perfurado. Algumas mães, horrorizadas, tampam os ouvidos dos filhos. A essa altura, a mãe da noiva começa a se abanar com as folhas da decoração do altar. O pai olha o relógio na esperança do sermão estar chegando ao fim. Mas o Padre, com a maior naturalidade do mundo, continua:
- Tatiana, para que as relações continuem quentes, você poderá usar o lubrificante íntimo Molhadinha e Discreta da Smart & Helmet ou o famoso KY Gel da Jonhson & Jonhson que são incolores e não tem cheiro... Você também pode encontrar, em sexs shops, alguns lubrificantes de sabores extravagantes como, por exemplo, Piña Colada...
Alguns convidados sentam para rir. Outros, começam a ficar com tesão e loucos para enfiar a mão por debaixo dos vestidos das mulheres. O padre pega o copo de vinho e, dizendo umas palavras em latim, oferece ao casal. A mãe da noiva já começa a apresentar sinais evidentes de tontura e o pai, de taquicardia. Enquanto isso, o padre abençoa a hóstia e a coloca na boca dos noivos, e continua o seu discurso:
- O sexo oral também é muito importante... tanto para o homem quanto para a mulher... Por isso é fundamental que o casal mantenha os seus órgãos sexuais sempre limpinhos e saudáveis. Muitas mulheres, só conseguem atingir o orgasmo através do sexo oral... E, a maioria dos homens, não vive sem um bom chupeteco.
A mãe da noiva faz que vai desmaiar. Os padrinhos também se controlam e, junto com os convidados, começam a rir, enquanto o fotógrafo japonês, de terno listrado, dispara um clique atrás do outro.
Finalmente, o Padre abençoa o casal, introduzindo, em seus dedos, as alianças.
- Se a tentação for muito grande, a infidelidade até será permitida perante o Senhor... Mas nunca sem camisinha ... Aproveito para lembrar que as camisinhas Loló, Hot, Red and Wet e Fuck me Baby foram as únicas que passaram nos testes de qualidade do Inmetro e do Ministério da Saúde. Os convidados podem sentar-se...
Neste instante, um tio da noiva não resistiu e interveio ferozmente.
- Escuta aqui ô seu padre, que diabo de sermão é este? Isto mais parece um manual de sacanagem. Dê por encerrada esta cerimônia imediatamente!!! Pelo jeito tu também deve ser um daqueles padres pedófilos. Cai fora, seu depravado!! E mais, o nome da minha sobrinha não é Tatiana e do noivo não é Marcelo.
Silêncio profundo no altar e no templo... O "padre", agora com um olhar de surpresa, desculpa-se.
- Olha aí gente, não levem a mal não, eu também não sou padre, sou ator, fui contratado por amigos dos noivos pra fazer esta brincadeira, mas acho que errei de casamento!! Mas se serve de consolo, lhes asseguro que essas dicas servem muito bem para todos que moram neste cú de mundo. Fui!!!
Dizem que a cidade de Amaral Ferrador nunca mais foi a mesma...

Luis Fernando Veríssimo

Diário de uma doméstica...

VER-DE-VER-MEU-PAI


CELSO SISTO
A primeira vez que o vi de verdade, ele rasgava papéis. Tão pouco menos menino que eu e já com sobras nos olhos! Naqueles pedaços de carta, cartões e bilhetes, eu via misturarem-se dias, meses e anos de um diário que ele construiu feliz.
Fingi não ver lágrimas. É, fingi, Virei de costas para não intimidá-lo e ele chorou no silêncio. Lá fora a natureza se encarregava de dublá-lo.
E aos poucos eu fui ficando ali, imóvel, apenas para aprender mais sobre ele. Quanto tempo? Talvez o suficiente pare perceber que naquele instante ele começava a crescer aos meus olhos. Minha irmã juraria ter visto um monstro, eu diria apenas ter visto o homem.
No dia seguinte, na escola, o assunto era ecologia. A professora havia falado sobre animais em extinção e, como sempre, pediu uma redação. E eu escrevi:
Meu pai era feito de terra. Terra das Minas Gerais, que eu preferia acreditar que eram Minas Individuais, porque eram só dele, muito dele.
Estava no seu jeito de falar:
- Ara, menino! Deixa de revestrés!
Estava nas brincadeiras que ele me ensinava:
- Dia, compadre!
- Dia comadre!
- Os patinho tão bom?
- Vão bem, obrigado.
- Qué  que eles come?
- Milho cuzido.
- Qué que eles bebe?
- Água do rio Fonfom da cor de limão de Nossa Senhora da conceição!
Que era o modo dele me dizer que em Minas ele foi o que eu sou hoje. E que lá, pisando descalço a terra, ele tinha criado raízes.
E de tanto ele falar isso, eu acreditei que ele era árvore, e foi só notar as marcas no seu rosto para entender que a árvore trocava as folhas e que, enfim, era outono no rosto do meu pai.
E ele regava a terra quando os olhos se enchiam d’água. Que vinha mansamente lavando tudo, deixando o olhar limpo para ver o depois.
E eu nadava no rio que ele derramava, confiando que ele viria ao menor pedido de socorro!
Pai, não me deixe sozinho!
E ele era um rio de margens largas, de onde a gente espiava o mundo que cabia nos seus olhos.
Mas meu pai também era fogo! Quando queria, queimava a gente com o olhar. Bastava minha mãe reclamar:
Esses meninos hoje ainda não pararam de brigar!
Aí não havia água que apagasse aquele incêndio. E ele não botava fogo em palavras! Fogo pelos olhos era mais forte. Queimava mais. Impedia o tapa e a surra, mas obrigava a gente a pensar sobre o erro.
Meu pai era ar quando ria redondo. Enchia a sala com seu sopro, e tudo virava um grande balão:
Vem vento caxinguelê, cachorro do mato quer me morder!
Assim soprando vida, ele devolvia ao nosso mundo a brisa que, depois de caminhar por dentro dele, passava para nos fazer cafuné. Nesse tempo suas folhas eram de veludo.
Hoje meu pai foi ser natureza em outro lugar. Dizem que sou a cara dele. Um dia vou quebrar esse espelho! Pra libertá-lo da forma e me libertar da dívida!
E foi isso. E minha redação sofreu graves acusações:
- Isso não tem nada a ver com ecologia!
- Eu não sabia que seu pai era bicho!
- Seu pai é árvore, é?
- Você foi achado numa folha de bananeira, aposto! Por isso é que você diz que é filho de árvore!
E eu, que procurava apoio nos olhos da professora, vi que ela estava indignada e sem respostas. Pela primeira vez!
Depois desse dia, passei a andar com um adesivo bem grande colado no caderno:
Preserve a Natureza! Proteja o Homem!

Esquecer para Lembrar

Um amigo meu, nos Estados Unidos, comprou uma casa velha de mais de um século, conservada, como muitas por lá existem. Muitas coisas a serem consertadas. Tudo teria que ser pintado de novo. Antes de pintar com as cores novas ele achou melhor raspar das paredes a cor velha, um azul sujo e desbotado. Raspado o azul, debaixo dele surgiu uma cor rosa mais velha ainda que o azul. Raspou-a também. Aí apareceu o creme, e depois do creme o branco... 
Cada morador havia coberto a cor anterior com uma cor nova. E assim ele foi indo, pacientemente, camada após camada. Queria chegar à cor original, que apareceria depois que todas as camadas de tinta fossem raspadas. Finalmente o trabalho terminou. E o que encontrou foi surpresa inesperada que o encheu de alegria. Mais bonito que qualquer tinta: madeira linda, o maravilhoso pinho-de-riga, com nervuras formando sinuosos arabescos cor castanha contra um fundo marfim. 

Parábola: somos aquela casa. Ao nascer somos pinho-de-riga puro. Mas logo começam as demãos de tinta. Cada um pinta sobre nós a cor de sua preferência. Todos são pintores: pais, avós, professores, padres, pastores. Até que o nosso corpo desaparece. Claro, não é com tinta e pincel que eles nos pintam. O pincel é a fala. A tinta são as palavras. Falam, as palavras grudam no corpo, entram na carne. Ao final o nosso corpo está coberto de tatuagens da cabeça aos pés. Educados. 
Quem somos? “O intervalo entre o nosso desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós“, responde Álvaro de Campos. Contra isso lutava Alberto Caeiro: Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu. Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!), isso exige um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender... 
Barthes se descobriu atacado pela mesma doença que afligira Caeiro. 
Através dos anos seu corpo foi coberto por saberes que se sedimentaram sobre sua pele. Agora ele estava enterrado, esquecido de si mesmo. Só havia um caminho: desaprender tudo. “Empreendo, pois“, ele diz, “deixar-me levar pela força de toda forca viva: o esquecimento“. Esquecer é raspar a tinta. Afim de se lembrar do esquecido. E o que ele viu, depois de terminada a raspagem, encantou-o: lá estava a sua alma, o jeito original de saber — “sabedoria“. 
Diz o Tao Te Ching que os saberes podem ser somados (como as camadas de tinta). Mas sabedoria só se obtém por subtração, por raspagem e esquecimento. 

 Rubem Alves

sábado, 11 de outubro de 2008

Estrelas em Greve



Todas as noites, as mulheres se punham diante da televisão para ver as novelas. Os homens cochilavam no sofá e a criançada brincava com os computadores. Ninguém tinha tempo de olhar para o céu.
Sem platéia, as estrelas decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. A Lua, solidária com as amigas, aderiu ao protesto e também se escondeu.
Foi um fuzuê no mundo inteiro. As galinhas, que dormiam com a estrela-d’alva, perderam o sono e deixaram de botar ovos. As corujas pararam de piar. Os tatus não saíram mais das tocas. Os grilos silenciaram. Os anjos da guarda, que desciam à noitinha para ninar as crianças, perdiam-se no caminho. As damas da noite não abriram mais suas pétalas. No escuro, o vento não enxergava nada e não sabia para onde soprar. Os poetas caíram em desânimo e a produção de poesia imediatamente cessou. Os agricultores ignoravam se era ou não a época certa para semear. As marés, desorientadas, subiam e desciam à deriva.
Então, os homens descobriram que aquilo tinha a ver com o sumiço das estrelas. Chamaram os melhores astrônomos, mas eles não souberam explicar o ocorrido. Convocaram as feiticeiras para resolver o assunto, elas fizeram lá suas mandingas, mas não adiantou nada. A coisa estava realmente preta.
Até que, numa noite, um homem saiu de casa e se pôs a contemplar o céu na escuridão. Lembrou que a mãe lhe ensinara a posição do Cruzeiro do Sul. Outro se juntou a ele e recordou as histórias de Lua cheia, quando aparecia o lobisomem. Um velho ouviu a conversa dos dois e veio contar que, em criança, tinha visto o Cometa Halley. Apareceu uma mulher e comentou que só cortava os cabelos na Lua minguante. Outra mulher falou que, havia alguns anos, vira uma estrela cadente e fizera um pedido. O marido ouviu-a e disse que o pedido era ter o amor dele para sempre. Outro homem contou que lhe nascera uma verruga no dedo porque, quando garoto, apontara para as Três-Marias. Aos poucos, as pessoas foram saindo de casa e cada uma tinha sua história para contar sobre a Lua e as estrelas.
Quanto estavam todos na rua olhando o céu vazio, as estrelas, que os observavam do fundo da noite, apareceram de surpresa, acendendo-se ao mesmo tempo. Foi lindo: parecia uma chuva de gotas prateadas. Em seguida, despontou a Lua, com seu brilho magnífico, como um holofote.
Aí todos entenderam o motivo daquela greve. E, imediatamente, decidiram em consenso: podiam ver televisão, dormir no sofá e brincar com o computador todas as noites. Mas, de vez em quando, iriam dar uma espiadinha no céu para ver o show das estrelas.
Conto de João A. Carrascoza. Ilustrado por Ivan Zigg

Aí tem

As coisas são como são. Se alguém diz que está calmo, é porque está calmo. Se alguém diz que te ama, é porque te ama. Se alguém diz que não vai poder sair à noite porque precisa estudar, está explicado. 
Mas a gente não escuta só as palavras: a gente ouve também os sinais. Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um iglu. Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. 
Até que você o coloca contra a parede: “O que é que está havendo?” “Nada, tô na minha, só isso.” “Só isso???? Aí tem.” Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado demais. Não parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. 
Você pergunta à queima-roupa: “Que alegria é essa?” “Ué, tô feliz, só isso.” “Só isso????? Aí tem.” 
Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido, mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à noite: aí tem. 
Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor maneira de nos dar uma má notícia. 
Se está esfuziante demais, é porque andou rolando novidades que você não está sabendo. 
Se ele está carinhoso demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em outra. 
Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite alguma coisa pra ele. 
Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama mais. 
Se parou de fumar, é uma promessa que ele não contou pra você. Enfim, o cara não pode respirar diferente que aí tem. Às vezes não tem. 
O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. 
Pode estar mais carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais produzido porque teve um aumento de salário. 
Por que tudo o que eles fazem tem que ser um recado pra gente? 
É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode ser uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um cartão amarelo. 
O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres homens. Se não estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou para assistir um jogo de vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de antecedência, danou-se: aí tem. Autor desconhecido

A vogal "i" quer ir embora

Oi! Eu sou um “i”. 
Como “i” que sou, a nível de vogal que sempre serei, sinto-me injustiçada e revoltada. 
Por que que é de todo alfabeto só nós temos que carregar essa bolinha ridícula!? Não quero mais usar. 
É por isso que na próxima encadernação, eu quero vim letra “a”. 
É, porque o “a” pode usar todos os acentos que quiser: vira pra lá é crase, vira pra cá é acento agudo, pega um resfriado, põe um chapeuzinho, quer dá um lance põe um til, fica toda tchan. 
Gora então que ela virou símbolo mundial da internet, tá toda arroba, toda boba! Letra metida! Muito difícil a convivência aqui nesse alfabeto! 
Foi por isso que eu estou de malas prontas, para abandonar a Língua Portuguesa. 
Eu... tava pensando então de ir para os Estados Unidos... só que lá para você tirar som de “i”, só sendo ipsilone. Eu também não tô a fim de me vender a esse ponto. Aí o “ó”, que é o “ó”! 
Ele sugeriu que eu fosse pra Alemanha, mas gente, lá tem trema. Já pensou se ao invés de uma eu tiver que carregar duas bolinhas? Então não sei, sabe? Porque se eu ficar aqui, qual vai ser o meu futuro? 
Virar diminutivo na boca desses casaizinhos melosos, hein hen hen... Se pelo menos na hora da sacanagem eles me usassem! Mas não! Eles usam todas as vogais: Aaaaaahhhhhhh! Eeeeeehhhhhh! AAAAaaaa! UUUUUuuuuuu! Quando fala iiiiiiihhhhhh! É porque o cara! Ó.... 
Poxa! Sabe, eu também não quero ficar morando nestas siglas antipáticas tipo IPTU, ICMS e IR. Então, agora eu vou me embora, vocês vão ver como é difícil ficar sem o “i”. 
 Nunca mais vocês vão poder fazer xixi, só coco! 
 Também nunca mais vão poder se cumprimentar dizendo: Oi! Como vai? 
Só vão poder se despedir, como eu estou fazendo agora, dizendo: Até logo! By! By! Tchau! Tchau!

 Texto do Grupo "Os melhores do mundo"