quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Livro de todos - O mistério do texto roubado

Leiam esta obra na íntegra: http://www.livrodetodos.com.br/2008/11/capitulo-1 Boa leitura, cheia de encanto e magia...

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores da Obra Escreva e Aconteça: Raquel - Coragem e Determinação Adriana Cristina da Silva Alabibia Barbosa da Silva Alexandre Pinheiro Santana Alice Carlos Feliciano Aline da Silva Lima Alline Karolyne Cândida da Silva Amanda Carolyny Brunozi Ana Christina de Pina Brandão Ana Chrystina Sabino Ribeiro Ana Gláucia Miranda Ribeiro Analice Chaves da Silva André Junior Andressa Simões Andrade Anny Kelly Muniz Alcântara Arivaldo Alves Vila Real Armênia Cecília da Silva Arminda Maria de Freitas Santos Bianca Tavares Pereira Bráulio Alves da Silva Bruna Teles Andrade Caio Fábio Cleofas Pardim Cícero Hernane de Oliveira Cristiane Trombetta Daniel Ciriaco da Rocha e Silva Daniele de Paula Bonetti Gomes Danielly Tavares Flores Danilo Paiva de Oliveira Danrlley Handerson Alves Vieira Darley José Moreira Macedo Débora Cunha Freire Denise Oliveira Dias Dheisse Kely Alves Moraes Dinaene Rita Dourado Eliazar Conrado Emilia Rodrigues Meira Emmilly Borges de Sousa Érica Mendes Soares Flavia Lima Martins Francielly Scari de Souza Gabryella Mably Alves Bueno Gilliarla Jesus de Sá Giovana Ribeiro da Silva Guerra Guilherme Monteiro Cardoso Hellen Kássia Cândida da Silva Iasmin Cristina Gomes de Lima Isabela Duarte de Menezes Lima Jacqueline de Souza Jader Henrique Faria Amorim Janete Rodrigues da Silva Janiele de Medeiros Oliveira Jean Matsunaga Costa Jéssyca Sales de Cirqueira Jheniffer Cristina Frutuoso da Silva Jonas Ricardo Jonatas Alves Guimaraes Joselaine Ribeiro Nogueira Joycelaine Cristine Rocha Juliana dos Santos Ribeiro Julio Cesar Bento de Oliveira Kaíque Borges Cabral Kamila Magalhães Karina Trombetta Karine Maria César Kássia Miguel Ghamoum Késia Kássia de Sousa Laís Flávia Silva Lara Sales de Cirqueira Leidiane Maximiano Silva Letícia Gomes de Queiroz Letícia Sousa Oliveira Luana Araújo Siqueira Luana Pereira Lemos Marcelo Cavalcanti Marcos Vinicius Evaristo Neto de Deus Margaret Maria de Melo Marinete de Souza Santos Maycon Douglas Ferreira Marinho Michele Rosa de Oliveira Mônica Soares Silva Natália Brígida Martins Cardoso Nathália de Camargo Souza Nathália Rezende Silva Nathálya Bárbara Xavier de Almeida Nayara Oliveira Gomes Neuracy Pereira S. Borges Pablo Henrique Ferreira Araújo Patricia Stefânny Bandeira Paulo Henrique Castro Santos Poliane Caetano Ferreira Pollyanna Ranielle Neris de Araújo Rafael Caique da Silva Santos Arantes Rafaella Brandão da Silva Raissa Alves de Oliveira Raysa Ferreira Rosa Renata Artoledo de Melo Renata Cordeiro de Oliveira Rodrigo Rodrigues Ferreira Rosely Aparecida Wanderley Araújo Ruiver Rodrigues Pereira Shirlene Álvares Stefany Barbosa da Silva Sue Ellen Ramalho da Silva Tarciany Barbosa da Silva Tatiane Cardoso Amâncio Tatiane de Faria Cunha Tayná Rakan Machado Novaes Terezinha Luiza Barbosa Thais da Silva Teodoro Thaynara Rodrigues Nogueira Valéria Gonçalves Borges Victor Hugo Roque de Lima Wanessa Alves Gomes Whellen Flávia Calaça Maia Yasmin Guedes Martins

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 1 - A PROMESSA DE VIDA - Com licença, vai demorar muito ainda? - Qual a sua senha? - Moça, minha mãe está ansiosa e eu também. - Doutor Gouveia já vai atender vocês. - Mas não era só pra pegar o resultado? Por que é o médico que vai entregar? E foi ali, num banco de hospital, que Raquel começou a entrar em desespero, junto com sua mãe. Raquel era uma moça de quinze anos, cursava o ensino médio e, além da mãe e uma tia, tinha também o amigo Rubens, que se mudara para Goiânia. Era uma moça batalhadora e, para ajudar em casa, catava latinhas em eventos, como shows e jogos em estádios de futebol. Dona Luiza trabalhava em uma mansão no Lago Norte, em Brasília. Morava com a filha num barraco há mais ou menos dois quilômetros do Palácio do Planalto. Enquanto aguardavam o médico, Raquel recordava-se do trabalho realizado no último final de semana, e dos seus sentimentos naquela noite: "Estou aqui novamente, catando latinhas de alumínio que esses riquinhos descartam! Gostaria de estar lá dentro e não aqui fora. Hoje essa boate tá demais! Mas, não devo ficar pensando nisso, tenho que ajudar minha mãe. Com essa doença, ela provavelmente terá que parar de trabalhar. É uma pena que só posso catar latinhas nos finais de semana, os estudos me impedem de trabalhar diariamente, mas quero estudar muito e dar uma vida melhor pra minha mãe." Despertou dos seus pensamentos quando o médico chamou pelo nome de dona Luiza Silva. Ambas tremeram, tinham receio dos resultados dos exames. Raquel era cor de jambo, tinha os cabelos encaracolados, era alegre e descontraída. Mas, naquele momento, não havia sorriso no seu rosto. Doutor Gouveia explicou que o exame de dona Luiza acusara Leucemia Mileóide Crônica e que ela precisaria iniciar, imediatamente, o tratamento. A conversa foi longa, o médico foi cauteloso: - A Leucemia é o nome dado a cânceres no sangue. Ocorre quando a medula óssea produz grande quantidade de células brancas, diminuindo, assim, a produção das células vermelhas e plaquetas. As células brancas, produzidas em grande quantidade, não conseguem atingir a maturidade e adoecem, deixando de desempenhar suas funções. Tais alterações provocam anemia, infecções, hemorragias e manchas no organismo, pois os glóbulos vermelhos - que levam o oxigênio por todo o corpo -, os glóbulos brancos - que combatem vírus -, as bactérias e as plaquetas - que auxiliam na coagulação do sangue - não mais desempenham suas funções adequadamente. - É grave, doutor? - Muito grave, Raquel. Mas existem tratamentos adequados, e sua mãe poderá obter sucesso! A notícia invadiu a alma de ambas, que se olharam com lágrimas nos olhos. Raquel sentiu o chão se abrir, não sabia o que dizer à mãe. Depois de ouvirem todas as explicações do médico, dirigiram-se à capela do hospital. Rezar, naquele momento, era o desejo de dona Luiza. Ajoelhou-se em frente ao altar e chorou por mais de uma hora. Introspectiva, Raquel silenciou-se no último banco e também não conteve as lágrimas. Ao saírem dali, mãe e filha, cada uma no seu silêncio, começaram a buscar forças na fé, na esperança. Não trocaram nenhuma palavra até chegarem. Já em casa, dona Luiza disse à filha: - Raquel, se algo acontecer comigo, se minha doença se agravar, quero que seja forte e que continue estudando e trabalhando. Não deixe que ninguém a desanime! Siga direitinho tudo que lhe ensinei: não baixe a cabeça, olhe diretamente nos olhos das pessoas, não trilhe caminhos errados, siga nossa religião, tenha sempre em mente seus objetivos! Não deixarei nada de valor pra você, mas herdará meus ensinamentos! - Não diz assim, mãe! Você logo estará curada e ainda vamos ser muito felizes juntas! No dia seguinte, dona Luiza não acordou disposta, estava fragilizada e ficou até mais tarde no quarto, como quem quisesse isolar-se. Raquel não a perturbou, viu que a mãe chorava segurando uma caixa de guardados antigos, como cartões, fotos, documentos que, volta e meia, ela remexia. Dona Celeste, patroa de dona Luiza, foi visitá-la. Ao sair para recebê-la, esqueceu a caixa aberta sobre a cama. Raquel, curiosa, pegou-a e começou a vasculhá-la, enquanto a mãe e sua patroa conversavam na sala. Durante a visita, Raquel pôde ler muitos papéis que estavam guardados na caixa. Uma descoberta a chocou! Encontrou uma Declaração de Nascido Vivo, de um menino que, atualmente, deve estar com dezessete ou dezoito anos de idade. Não encontrou registro de nascimento algum, mas na declaração constava o nome Luiza Silva, como mãe do garoto. Não fazia referência sobre o pai, então Raquel concluiu que sua mãe tivera um filho antes do casamento. A confusão na cabeça da moça só aumentava. Remexeu ainda mais os guardados, encontrando ali também um livro “Aventura no Araguaia” de Bariani Ortêncio, um escritor paulista, mas como ele próprio diz: “goiano de coração”, por viver em Goiânia há muitos anos. Viu que o livro estava autografado para sua mãe.Guardou-o na caixa e foi para a sala. Dois dias se passaram e, de uma lan house, Raquel teclava no messenger com seu amigo Rubens. Contou-lhe sobre a doença da mãe, dizendo-lhe que não sabia como ajudá-la. Contou-lhe também o segredo de dona Luiza, e Rubens a aconselhou a conversar com ela, a contar-lhe o que descobrira. E durante a conversa Raquel manifestou uma ideia que lhe ocorrera: - Rubens, nem sei como minha mãe poderá se tratar. Dona Celeste, sua patroa, esteve lá em casa e disse que vai ajudar, mas sei que o tratamento não é barato. Não vai ser fácil; li, aqui na internet, que ela precisará de um transplante de medula óssea, ou de um catéter, ou mesmo de transfusões de hemáceas ou plaquetas. Nem sabemos quanto custa isso. - Calma, Raquel - Rubens tentava amenizar a situação. - Minha mãe não dorme desde a notícia do médico e sei que está muito apreensiva. E se ela precisar de um transplante? Tomara que eu seja compatível e possa ser doadora. - Vocês voltaram ao médico? - Ainda não. Marcamos uma nova consulta para amanhã. No momento em que Raquel conversava com Rubens, apareceu, online, Paulo César, um rapaz que ela só conhecia virtualmente, mas com quem sempre conversava. Ele era mais velho que ela, morava com os pais e estava cursando o último ano do ensino médio. - Olá! - Oi. - Como você está? - Nada bem. E Raquel contou a Paulo César o que estava acontecendo. Ele disse a ela que tem um tio médico, especialista em oncologia, com um histórico de sucesso no tratamento de Leucemia, num hospital em Goiânia. A conversa com Rubens cessou e Raquel ficou teclando com Paulo César por mais de uma hora. Ao sair dali, estava esperançosa, decidida a conversar com sua mãe. E talvez aquela fosse a conversa mais dura que as duas teriam até aquele dia. Quando chegou em casa, encontrou dona Luiza deitada no sofá, estava cansada da rotina de tantos exames. Raquel pediu à mãe que a escutasse. Contou-lhe, então, que encontrara um documento na caixa de segredos, e quis saber quem era a criança nascida em 1991. A mãe contou-lhe a verdade: - Sabe, minha filha, na vida cometemos erros. Eu me arrependo do que aconteceu. Eu era doméstica na casa da dona Rita Albuquerque, lá em Goiânia. Um dia, o marido dela, Seu José Paulo, me seduziu. Engravidei, saí do emprego e tive a criança. Como estava desempregada, somente com algumas faxinas, não tive como criar a criança (neste momento, dona Luiza soluçava) e acabei abandonando o menino na porta deles. E nunca mais os vi, nem os Albuquerque e nem a criança, meu filho! Raquel segurou as mãos de dona Luiza e, carinhosamente, abraçou-a: - Mãe, não fique assim! O silêncio tomou conta daquele ambiente, era como que se ficassem caladas fosse a forma de dizer, uma à outra, que estavam ali e que isto bastava, tamanha a cumplicidade das duas. No dia seguinte, no consultório do doutor Gouveia, a notícia foi dolorosa: dona Luiza teria que fazer o transplante de medula óssea. Seu caso era mesmo muito grave. Teriam que batalhar para entrar na fila de espera por um doador. Doutor Gouveia falou das dificuldades em encontrar um doador compatível. Disse que dona Luiza teria que fazer novos exames para poder incluir seu nome no Banco de Medula Óssea. Desta vez Raquel saiu do hospital, sozinha. Enquanto dona Luiza fazia os exames, ela caminhou pelas ruas largas da cidade, tentando encontrar soluções para o problema. Sentia-se responsável pela mãe. O seu desejo era ser compatível e poder ser a doadora, mas sentia no seu íntimo a improbabilidade de ser a solução daquele episódio cruel de sua vida. Após minutos de caminhada, Raquel teve uma sensação de EUREKA: o filho de sua mãe, deixado na porta dos Albuquerque, poderia ser o doador compatível. Teria que ir atrás dele. Goiânia era perto de Brasília, ela mesma poderia encontrá-lo. Seria, com certeza, a salvação da mãe! Na cabeça de Raquel a doença da mãe teria um desfecho rápido, e toda aquela dor se transformaria. E, com o fim do sofrimento, viria a alegria, a felicidade. Raquel se animou, pois em Goiânia, além de Rubens, o amigo amável e solidário, com quem sempre pôde contar, poderiam hospedar-se na casa da tia Zilda, irmã do seu pai. Sem contar que ainda poderiam consultar o médico, tio de Paulo César. E foi assim, cheia de esperanças, que Raquel voltou ao encontro de sua mãe, no hospital, e contou-lhe seus planos. Para dona Luiza, ir atrás do filho significava resgatar uma parte da vida que estava esquecida. Nos dias que se seguiram, vieram o desânimo e novos planos. Raquel realmente não poderia ser a doadora da medula para a mãe. Nos Bancos de Medula Óssea em Brasília também não foi encontrado nenhum doador compatível. - Por onde começaremos? – Indagou dona Luiza, ao admitir a possibilidade de procurar pelo filho. - Podemos começar pelo endereço dos Albuquerque. - Mas, e se eles não morarem mais no mesmo lugar? - Procuraremos em outros endereços. Posso pesquisar na internet, mãe. Começar uma busca pela internet era a idéia primeira de Raquel. - Como é isso? - Eu vou pesquisar no Google. - Tá bom, mas iremos pra Goiânia assim, sem saber que rumo vamos tomar? - Vou pedir ajuda ao Rubens. - Raquel, isso não! Já te pedi para se afastar desse rapaz, ele quer te seduzir, minha filha. Não é um bom amigo! Por sermos pobres, a família dele irá te maltratar; jamais aceitará que ele namore uma menina cor de jambo que cata latinhas. - Eu não vejo assim. Sou honesta, trabalhadora, uma das melhores alunas do colégio, tanto é que ganhei o concurso de redação e também a maratona de matemática; e minha cor é linda! Hoje, mãe, as modelos mais famosas do mundo são negras! - Tem mais, minha filha, ele é bem mais velho que você; só quer se aproveitar. - Mãe, ele é bom pra mim. Lembra a força que ele nos deu quando o papai morreu? Não é porque ele tem dinheiro que quer se aproveitar de mim. Ele pode nos ajudar a procurar seu filho, pois conhece Goiânia, já mora lá há mais de um ano. Quando estive lá em dezembro, na casa da tia Zilda, ele me levou para conhecer vários lugares legais e me apresentou seus amigos. Um dia te conto, agora temos que preparar a nossa ida para Goiânia. Na escola, Raquel procurou no Google pelo nome do Sr. José Paulo Albuquerque, mas não encontrou. Pesquisou também em listas telefônicas, inclusive o nome da esposa, Rita Albuquerque. Nada! No MSN pediu ajuda a Rubens que estava online. Ele se colocou à disposição: - Posso te ajudar no que você precisar: carro, telefone, dinheiro. - Nem sei como agradecer, Rubens. Você realmente é um bom amigo, aliás é o meu melhor amigo. - Quando vocês virão para Goiânia? - Estou aguardando minha mãe se decidir e pegar um encaminhamento do médico. Preciso saber se aí ela terá como continuar o tratamento. - Quer que eu olhe isso? - Sim, vou precisar muito de você. Veja em que hospital eu poderei continuar o tratamento dela. Acho que teremos de mudar definitivamente. - Nem acredito nisso! - Calma! Não tenho certeza ainda! Raquel foi se enchendo de força, começou a organizar as coisas, ligou para tia Zilda, falou-lhe sobre a possibilidade de ficarem na sua casa, solicitou a transferência escolar, pediu ao doutor Gouveia indicações de especialistas em Goiânia e um encaminhamento médico. Na última consulta, doutor Gouveia salientou: - Quero adiantar a vocês que consegui falar na clínica de um amigo, e conversamos sobre os resultados e o histórico patológico de sua mãe. Ele está disposto a nos ajudar, colocou-se à disposição, não só ele, mas também a clínica! Dona Celeste arcou com as despesas da mudança. Assim, Raquel e sua mãe tomaram o rumo de Goiânia numa manhã de setembro. Tia Zilda as aguardava. Era uma das irmãs do pai de Raquel. Seu Otacílio Silva que morrera há três anos ao ser atropelado, porque estava embriagado. Em Goiânia, Rubens já no primeiro dia ajudou Raquel a se matricular em uma escola da Rede Estadual. Depois começariam as buscas pelo irmão e por hospitais. Primeiramente iria à clínica que o doutor Gouveia indicou.
Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 2 - QUEM PROCURA, ACHA Raquel sentia-se otimista e planejava uma nova vida. Tinha esperança de encontrar em Goiânia, o doador que pudesse salvar a vida de sua mãe. Logo no primeiro dia, seguiram para a clínica do doutor Renato, o médico indicado pelo doutor Gouveia. Quando chegaram, já era tarde e o médico havia ido embora. Somente no terceiro dia conseguiram uma consulta. Raquel pensou em contar ao médico a história de vida da sua mãe, mas resolveu que só responderia o que ele lhe perguntasse. Deixou que a mãe contasse sobre o irmão. Durante a consulta, doutor Renato disse: - Dona Luiza, o seu quadro clínico não é nada bom; temos que encontrar um doador o mais rápido possível. Sei que não será fácil, pois há pacientes meus que estão aguardando há muitos meses e ainda não conseguiram. Mesmo assim, temos que ter fé, sei que iremos encontrar um doador, pois o banco de medula óssea é de âmbito nacional. A senhora acredita que iremos conseguir? A sua confiança é muito importante no tratamento! Ela fez que sim com a cabeça. - Doutor, tenho uma esperança. Eu tenho um filho que pode ser doador, mas não sei onde ele está, pois o abandonei quando nasceu. Estou à procura dele. O senhor acha possível que ele seja compatível? – Dona Luiza não conteve as lágrimas. O médico explicou que nem sempre é necessário que o doador seja um filho, mas disse que haveria, sim, grandes possibilidades. (Rever a afirmativa) - A senhora tem ideia de como fazer para encontrá-lo? - Doutor, só tenho como referência o lugar onde moravam meus antigos patrões. Foi na porta deles que deixei meu filho. Durante o trajeto para casa, Rubens tentou por várias vezes iniciar um diálogo com as duas, mas não obteve sucesso: enquanto dona Luiza chorava baixinho, Raquel, com os nervos à flor da pele, indagava-se em silêncio: E agora? O que fazer? Por onde começar? Procuraria seu irmão? E se ele não pudesse ser doador? Enfrentariam a fila de transplante? - Raquel... Raquel... Raquel... - Desculpe-me, estava tentando por ordem nos meus pensamentos. Como e por onde vamos começar? Minha mãe disse que o bairro que os Albuquerque moravam fica perto de um tal Parque Areião. - Hummm! Existem três setores próximos ao Parque Areião: Pedro Ludovico, Bela Vista e Marista. Então, combinaram que quando começassem a procura, levariam dona Luiza para tentar reconhecer o lugar. Não demorou muito e foram ao antigo endereço. Ficaram surpresos com a linda mansão, tocaram a campainha e uma voz veio do interfone: - Oi! Quem é? O que deseja? - Sou Raquel, estou procurando Rita e José Paulo Albuquerque, eles ainda moram aqui? - Não conheço. Eu trabalho aqui há dois anos. Nenhum dos três conseguiu disfarçar a decepção, apesar de saberem que essa não seria uma tarefa fácil. Encaminharam-se à casa vizinha. Lá morava uma dentista que dona Luiza conhecia. Ela não estava e o filho de doze anos não soube falar sobre a família Albuquerque. Em casa, Raquel lembrou-se de Paulo César e pediu a Rubens que a ajudasse a localizá-lo, pois com a sua ajuda poderiam ter mais chances de encontrar o irmão. Ele lhe havia enviado seu endereço pelo MSN. Depois de tanto procurarem, conseguiram encontrar o prédio de Paulo César que, atualmente, estava morando sozinho. Era estudante, tinha dinheiro e não trabalhava; seu apartamento era bonito e chique. Lá eles comeram e acessaram a internet. Paulo César falou-lhes sobre o site do governo federal, o “QUEM PROCURA, ACHA” e Raquel perguntou do que se tratava. Paulo César explicou: - Você ainda não ouviu falar? É um site, criado há pouco tempo pelo governo federal, para pessoas que perderam alguma coisa, ou que há muito tempo não veem alguém da sua família, ou ainda, que tiveram algum objeto roubado: seu carro, por exemplo. Basta que entre nesse site e se cadastre nos links “QUEM PERDEU?” e “PERDEU O QUÊ?” deixando, assim, cadastrado o que você procura. Se algum internauta souber o paradeiro do seu irmão entrará em contato com você por meio do seu e-mail ou telefone. Não é complicado não! - Nossa! Eu não sabia disso. - Foi lançado na semana passada. Você não viu TV esta semana? - Ah, deve ter sido por causa de nossa mudança. Depois disso, Paulo César teve outra idéia: sugeriu a Raquel que criasse uma comunidade no Orkut e postasse todas as pistas possíveis do irmão, para que mais pessoas fossem envolvidas na sua busca. Rubens ficou retraído, sentia ciúmes da esperteza de Paulo César e da atenção que a moça dispensava ao novo amigo. Paulo César ou PC, como gostava de ser chamado, ajudou Raquel a fazer o cadastro do irmão no site “QUEM PROCURA, ACHA”, colocou o antigo endereço da casa dos Albuquerque, o nome do casal, a profissão de ambos e a idade que o rapaz teria nos dias atuais. Criou também uma comunidade no Orkut. Os três ficaram ansiosos e combinaram que depois continuariam as pesquisas e acompanhariam as novidades pela internet. Apesar de ser fim de ano, e de estar tentando adaptar-se à nova cidade e ao novo colégio, Raquel saía-se bem nos estudos: além das boas notas que trouxera da escola anterior, os professores gostavam muito dela. Era uma ótima aluna! Mas precisava arrumar uma ocupação que fosse remunerada para ajudar sua tia nas despesas da casa. Rubens ajudava no que podia, entretanto, pedir-lhe dinheiro seria aproveitar demais da situação! Então, Raquel voltou a catar latinhas. Com a ajuda do primo Márcio, realizava o trabalho no estádio Serra Dourada, em clubes, festas e outros eventos, enfim, aproveitava todas as oportunidades que tinha. Raquel tentava esconder isso de Rubens, pensava que o rapaz poderia ficar constrangido em ajudá-la se soubesse que ela continuava nas ruas. Semanas depois, ainda na fase de acomodação, dona Luiza começou, lentamente, o tratamento de quimioterapia. Continuava contando com o apoio de Rubens, que corria de um lado a outro, pois além de acompanhar Raquel e sua mãe ao hospital, tentava descobrir o paradeiro do irmão de sua amiga. Na escola, Raquel teve uma aula no laboratório de informática, aproveitou para entrar no MSN, e por sorte encontrou PC on line, perguntou sobre o cadastro no site “QUEM PROCURA, ACHA”, contou sobre o tratamento da mãe e que voltara a catar latinhas. Marcaram um encontro no final da aula. Foram até o hospital Araújo Jorge procurar o tio de Paulo César, doutor Marcílio, médico oncologista, que tinha o desejo de que o sobrinho também fizesse medicina. Ao entrarem no estacionamento, para surpresa de Raquel, encontraram com Rubens que saía da Faculdade. Ela nem teve tempo de explicar-lhe o que fazia ali, pois Rubens, magoadíssimo, acelerou o carro e sumiu avenida abaixo. No ambulatório, doutor Marcílio pediu a Raquel que marcasse uma consulta para que ele pudesse examinar a sua mãe, mas adiantou-lhe que não gostaria de interferir no trabalho do doutor Renato, por questões éticas.

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 3 - PELA VIDA DE MINHA MÃE Raquel, apreensiva, questionava a arrancada de Rubens: por que ele não os cumprimentou? Por que agiu com tamanha falta de educação? O que teria passado pela sua cabeça? Esses questionamentos a perturbavam, mas nada poderia fazer naquele momento. De súbito, foi interpelada pelo doutor Marcílio: - Raquel, sua mãe poderá vir na quinta-feira? - Tudo bem, doutor, viremos na quinta-feira de manhã. - Combinado. Ao saírem, Paulo César quis conversar: - Raquel, achei estranho o comportamento do Rubens. Parece que ele ficou com ciúmes de você. - Será? Mas ele é só meu amigo! - Se ele fosse realmente seu amigo teria outra atitude, e não se comportaria como um garotinho enciumado, querendo chamar atenção de todo mundo. - Calma, PC! Vamos esquecer esse assunto, amanhã eu converso com ele. Agora preciso ir, pois já é tarde e minha mãe não gosta que eu chegue atrasada para o almoço. Em casa, Raquel encontrou a mãe chorando. Tentou consolá-la comunicando-lhe que na quinta-feira iriam ao ambulatório para que doutor Marcílio olhasse os exames e avaliasse o seu quadro clínico. Como também ela estava muito triste, nem almoçou; foi para o quarto e pôs-se a pensar no que aconteceria com sua vida, caso perdesse sua mãe. O toque da campainha interrompeu seus pensamentos. Era Rubens: - Vim pedir-lhe desculpas pelo que aconteceu hoje cedo. - Eu não entendi sua atitude, Rubens; mas quero deixar claro que, apesar de gostar muito de você, o meu objetivo neste momento é ver minha mãe curada, concluir meus estudos e ter uma vida mais digna. - É, reconheço que fui mesmo muito infantil. - Deixa pra lá! Está desculpado. - Trouxe um presente para você. - Presente? – Perguntou Raquel, pegando o embrulho. – O que é? - Abra! - Um celular?! Não posso aceitar, Rubens. - É para conversarmos. E se, de uma hora para outra, eu ficar sabendo de alguma pista sobre o seu irmão? Como irei avisá-la, se moramos tão longe um do outro? O celular facilitará nosso contato. - Sendo assim, eu aceito. – E com um sorriso tímido, Raquel agradeceu o presente. - E sua mãe? Como está? - Nada bem. Agora há pouco estava chorando. Dona Luiza chorava ao pensar na morte, não que tivesse medo de morrer, porque na verdade não tinha, mas temia pela sua filha. O que ela faria sozinha neste mundo? - Vocês não encontraram nenhuma pista sobre o paradeiro do seu irmão? - Não, mas vamos encontrá-lo. Tenho certeza! - Tenho que ir, voltarei mais tarde. Coloquei créditos no celular para que me ligue quando quiser. - Tá bom, Rubens, obrigada por tudo que você está fazendo por mim e por minha mãe! Logo que Rubens foi embora, Raquel saiu para catar latinhas ali mesmo perto de sua casa, onde estava sendo inaugurada uma quadra de esportes. O primo Márcio foi junto. Já se passava das 15 horas e Raquel sentiu fome. Entraram numa padaria e pediram um lanche. Sentaram-se em uma mesa e enquanto aguardavam o pedido, ela se lembrou de sua infância, dos momentos bons que tivera com seus pais, apesar da vida simples: chegaram a passar fome. Era uma garota sonhadora, uma aluna dedicada que almejava prestar vestibular e entrar para a universidade. Mas naquele momento só pensava no pior, não sonhava, não queria pensar no futuro, pois o futuro era incerto, obscuro. Então chorou. O primo tentou dar-lhe força, sem muito resultado. Quinta-feira pela manhã. Mãe e filha saíram do consultório médico e, mais uma vez, muito tristes. Como era esperado, a avaliação do doutor Marcílio não foi diferente do que o doutor Gouveia já havia constatado: era mesmo um caso muito grave. No outro dia, Raquel foi à escola, mas não conseguiu prestar muita atenção nas explicações dos professores. No final da aula, resolveu passar na casa de Rubens. Enviou-lhe um torpedo que ele logo respondeu dizendo-lhe que estava à sua espera. Entraram no site “QUEM PROCURA, ACHA”, e que surpresa! Já havia mais de trinta participantes na comunidade “PELA VIDA DE MINHA MÃE”. Alguns se manifestaram sobre a doença, dando depoimentos; outros deixaram recadinhos de otimismo. Aquilo reanimou Raquel. Paulo César estava on line no MSN. Eles conversaram e ela o agradeceu pela comunidade que estava fazendo sucesso. Ele aproveitou para falar que às 16 horas a pegaria em casa para darem uma volta pela cidade. Rubens, que não gostou nem um pouco de presenciar o diálogo dos dois, pensava: “agora ela só dá moral pra ele. Como se não bastasse tê-la acompanhado ao hospital naquele dia, agora de papinho no MSN, combinando horário para passar na casa dela. Mais essa agora!” Raquel e Paulo César andavam pelas ruas, quando foram interrompidos por um repórter de televisão, que estava fazendo uma pesquisa sobre as cotas nas universidades públicas, Disse-lhes que gostaria de ouvir a opinião deles a respeito do assunto. Raquel manifestou-se, mas, ao se dar conta da presença de Paulo César, omitiu algumas críticas que faria aos alunos de escolas particulares que se queixam do sistema de cotas, pois Paulo César estudava em um renomado colégio particular de Goiânia, e poderia sentir-se ofendido. O repórter agradeceu-lhes e, antes de se despedir, Paulo César indagou-lhe: - Estamos à procura de uma pessoa. Será se você não poderia nos ajudar a encontrá-la? - Talvez sim, através da mídia. O repórter orientou-lhes a procurarem o senhor Luiz Antônio, chefe do Departamento de ações sociais da emissora de TV, onde ele trabalhava. No outro dia, Raquel e Paulo César procuraram o senhor Luiz Antônio que os convidou a participarem de um programa de entrevistas da emissora, cujos entrevistados eram familiares de pessoas desaparecidas, que estavam à sua procura. Ao ser entrevistada, Raquel contou sobre o passado da mãe, falou sobre a família Albuquerque e sobre a intenção de encontrar o irmão: não era somente porque a mãe precisava de um transplante de medula óssea, mas, também, porque gostaria de conhecê-lo; afinal ele era o seu irmão mais velho. Ela falou e chorou. O apresentador ficou comovido. Ao término do programa, Paulo César levou Raquel para casa. Ela estava ansiosa para ver sua mãe e contar-lhe sobre a entrevista. No ar, ela havia dado o seu endereço eletrônico e o número de seu celular, para contato. Estavam muito animados, mas de repente Paulo César conseguiu acabar com a alegria de Raquel: - Eu queria perguntar-lhe uma coisa, mas fico meio sem jeito, pois é meio constrangedor. - Tudo bem, PC. Pode perguntar. - Você já pensou na possibilidade do seu irmão não aceitar a idéia de ser doador? Já pensou que ele pode não saber que é um filho adotivo? Que pode sentir mágoa de sua mãe, por tê-lo abandonado?

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 4 - PRESENTE DE NATAL Raquel chegou em casa animada com a entrevista na TV. Sua mãe havia assistido ao programa e gostou muito de ouvir Raquel falar: - Como você falou bonito, filha! - Sobre a importância de doar órgãos? - Sim. - O debate que houve na escola me ajudou. A professora está trabalhando esse tema nas aulas de ciências e pediu-me para relatar aos colegas a minha experiência. Falei sobre a sua doença e o quanto é difícil encontrar um doador compatível. Disse-lhes que, hoje, essa situação está acontecendo com a senhora, mas amanhã poderá ser com alguém da família deles, pois o câncer é uma doença terrível, traiçoeira, não escolhe cor, credo, idade ou classe social. Depois, pedi-lhes ajuda e coloquei o nome da comunidade do orkut no quadro negro, para que eles pudessem entrar e convidar outros participantes. De repente, um deles pode conseguir alguma informação sobre os Albuquerque e, então, daremos um fim a esse sofrimento. Dona Luiza abaixou a cabeça e disse tristemente: - Raquel, você ainda não viu. – E tirando o lenço da cabeça, mostrou a filha o cabelo que caía. Ambas se abraçaram e choraram. – Mais cedo, logo que você saiu, eu tive uma recaída e desmaiei, estou me sentindo fraca. Sua tia Zilda ligou para Rubens na esperança de vocês estarem juntos. Sinto-me fraca, Raquel, acho que não vou aguentar isso por muito tempo... Temos que encontrar seu irmão o mais rápido possível. - Mãe, fique calma! – e, pegando o lenço, colocou-o novamente na cabeça de dona Luiza. – Sinto que estamos perto de encontrá-lo, mãe. Raquel saiu do quarto em prantos, abraçou Rubens, que estava chegando e disse baixinho no seu ouvido: - Preciso encontrar o meu irmão, nem que seja a última coisa que eu faça. No outro dia, Rubens voltou à casa de Raquel. Quando estava saindo viu um saco cheio de latinhas encostado à parede. Não disse nada no momento, mas ficou desconfiado. E, pela primeira vez ligou para PC perguntando se ele sabia alguma coisa sobre isso. PC não sabia, mas disse que poderia falar com Raquel. Foi até a casa dela e, sem rodeios, perguntou-lhe: - Raquel, Rubens me ligou perguntando se eu sabia que você continua... - A catar latinhas? Sim, é verdade. É a única maneira de ajudar na casa, PC! Tenho que arrumar dinheiro de qualquer forma. E isso é melhor do que sair por aí pedindo esmolas. - Tudo bem, mas acho que você tem condições de encontrar um trabalho melhor. Tive uma ideia!!! Uma vez você me disse que suas notas no colégio são boas, certo? - Certo. E daí? - Sei como arrumar um outro trabalho para você. Quando PC disse isso, ela sorriu e quis saber o que deveria fazer. - É simples. Você só terá que preencher um cadastro nesses programas que o governo oferece para o primeiro emprego, e esperar ser chamada. - Ótima ideia! Vou fazer isso o mais rápido possível. Raquel se cadastrou e, passados alguns dias, foi chamada para trabalhar meio período em um órgão do governo. Ocupada com o trabalho, diminuiu os encontros com Rubens, o que o deixou chateado. Por outro lado, ela se empenhava cada vez mais para ajudar sua mãe. Gastou o seu primeiro salário com alimentação e remédios. O novo trabalho lhe proporcionava algumas vantagens, como acessar a internet. Todos os dias, entrava no seu e-mail e abria a caixa de mensagens. Depois de uma semana sem ver Rubens recebeu um e-mail: “Não sei o que está acontecendo, preciso muito falar com você. Por que se afastou de mim? Sei que está trabalhando e não tem muito tempo, mas me ligue. Se gosta de mim, não me deixe sem saber de você.” Beijos! Rubens Após ler o e-mail Raquel ficou confusa. Não sabia o que sentia por ele, mas tinha certeza do que aquela mensagem representava para ela naquele momento. Raquel, Rubens e PC entravam todos os dias no site "QUEM PROCURA, ACHA" em busca de pistas sobre o paradeiro de seu irmão e também à espera de um doador. No site eles haviam anunciado sobre o irmão de Raquel e sobre a necessidade da mãe. Era uma luta contra o tempo! A cada manhã, renovavam-se as esperanças e eles se animavam com as postagens na comunidade “PELA VIDA DE MINHA MÃE” e nas pistas recebidas no endereço eletrônico de Raquel. No trabalho, Raquel entrou no site onde encontrou duas pistas sobre o paradeiro de seu irmão. Nas mensagens estava escrito: “Olá, meu nome é Beatriz Fonseca e moro na Cidade Jardim. O casal José Paulo e Rita Albuquerque foram meus vizinhos, mas mudaram-se daqui, no ano passado. O menino que vocês estão procurando se chama Henrique Albuquerque, ele tem 18 anos, nós éramos muito amigos até eles irem embora. Brincávamos juntos quando éramos menores.” “Oi. Sou Eduardo Silva e moro no Setor Coimbra. Conheço quem vocês estão procurando. Há muito tempo minha família é amiga da família Albuquerque. Conheço o filho deles. Henrique era meu melhor amigo. Estudamos juntos por três anos. Tem um ano que não o vejo, mas posso ajudá-la a encontrá-lo. Espero sua resposta pelo meu e-mail.” “Voltem ao antigo endereço dos Albuquerque e procurem na redondeza, nos vizinhos e parentes. Assinado: detetive de plantão.” Essas informações animaram Raquel que, rapidamente, ligou para os amigos. Pensou no quanto foram inocentes em não procurar a vizinhança e os parentes dos Albuquerque que a mãe, possivelmente, conhecia. Chegou em casa com Rubens e PC. Foi até o quarto onde estava sua mãe, acordou-a com entusiasmo e procurou animá-la para a busca desse dia. A mãe estava muito fraca, mal podia se levantar. Raquel não desistiu, partiu juntamente com os rapazes, deixando-a repousar. Passaram o fim da tarde procurando por essas pessoas. Um dos antigos vizinhos disse à Raquel que os Albuquerque haviam se mudado para Minas Gerais, que tinha lembrança somente da irmã de dona Rita, que morava no setor Bueno, cujo endereço desconhecia. A irmã, Rosana Almeida, era dona de uma loja no shopping. Já era tarde quando voltaram para casa. Dona Luiza confirmou o nome da irmã da antiga patroa. Durante a noite, dona Luiza passou mal. Raquel ficou de vigília e na manhã seguinte foi para a aula com o rosto pálido, olheiras e a auto-estima baixa. Isso era visível! Os professores, que já conheciam o problema, procuraram respeitar o seu silêncio. Sem contar nada aos amigos, Rubens foi até o shopping indicado pelo antigo vizinho dos Albuquerque, onde ficava a loja de dona Rosana. Encontrou a loja, mas Rosana havia viajado para São Paulo. Rubens não fez mais perguntas e disse que voltaria depois. Antes de dar a notícia a Raquel, resolveu procurar no catálogo telefônico por pessoas com sobrenome Almeida, pois poderia ser o sobrenome de solteira de dona Rita Albuquerque. Depois de muito procurar, pois a relação era enorme, encontrou uma pista: Renata Almeida. Anotou o endereço e foi até sua casa. A moça, que era prima de Rosana Almeida, havia falecido, fazia dois anos. Quando Rubens contou a Raquel, ela quis jogar tudo para o alto e desistir, mas os amigos não a deixaram esmorecer. No site “QUEM PROCURA, ACHA” havia a mensagem de uma mulher chamada Cecília dizendo ser vizinha dos Albuquerque. E mais: que eles moravam no setor Jardim América. Havia mais de um mês que Raquel e a mãe estavam em Goiânia. O Natal se aproximava com suas cores e luzes. Raquel continuava estudando, trabalhando muito e procurando pelo irmão. Dona Luiza já bem debilitada: estava muito magrinha e, com apenas alguns fios de cabelo, que insistiam em nascer entre uma e outra sessão de quimioterapia. Doutor Renato, juntamente com o doutor Gouveia concluíram que dona Luiza tinha poucos meses de vida. Raquel foi ao apartamento de PC e lhe contou sobre a descoberta de Rubens. PC deu a ideia de pedir o número do celular da senhora Rosana. Foram ao shopping e contaram a história para a gerente que, muito feliz, fez a ligação para a patroa. Infelizmente, a chamada foi encaminhada para a caixa postal. A gerente, muito simpática e prestativa, acalmou os dois, dizendo que antes do Natal dona Rosana estaria de volta a Goiânia, provavelmente no dia 22 de dezembro. No dia 21, Raquel ainda sem qualquer notícia, sentiu que sua mãe definhava a olhos vistos. Rubens convidou mãe e filha pra passarem o Natal em sua casa. PC fez o mesmo. Raquel agradeceu os dois convites, preferindo ficar em casa: “Por que vocês não vêm passar o Natal conosco?” O convite foi aceito pelos dois amigos. A senhora Rosana só chegaria no dia 23. Por causa dos movimentos dos aeroportos, não encontrara passagens para o dia anterior. Ruas, avenidas, praças, lojas e shoppings exibiam seu brilho e seus enfeites natalinos. Luzes coloridas inundavam a cidade convidando à alegria e esperança. Mas, o coração de Raquel estava completamente triste. Ela só desejava encontrar seu irmão, ou um doador compatível para sua mãe. Dona Luiza já nem conseguia se levantar da cama. Tinha momentos de delírio. Raquel chorou, chorou todas as lágrimas, quietinha, e orou pedindo a Deus que o seu desejo fosse atendido. Antes que o avião aterrissasse, Raquel e os dois amigos inseparáveis já estavam no aeroporto Santa Genoveva. O avião estava atrasado. A gerente da loja de dona Rosana havia descrito como ela era. E foi por telefone que Raquel soube o horário em que ela chegaria. Eram quase 18h quando o avião aterrissou. A senhora Rosana saiu da sala de desembarque com dois carrinhos cheios de bagagens. Raquel se aproximou: - Boa tarde! A senhora é a dona Rosana Almeida? - Sim, sou eu. Em que posso ajudá-la? - Gostaria de conversar com a senhora por alguns minutos, se possível. Dona Rosana era uma mulher simpática e concedeu esse tempo a Raquel, que lhe apresentou os amigos. Sentaram-se em uma lanchonete do aeroporto e Raquel contou-lhe a história. A senhora ficou perplexa com a notícia de que seu sobrinho era filho de dona Luiza de quem se lembrava bem. Refazendo-se do choque, Rosana contou que Henrique estava na Europa, num projeto de intercâmbio do curso de inglês, mas que chegaria após o Natal, antes do Ano Novo. Raquel com muitas reticências quis saber de dona Rosana se era possível contar com sua ajuda. Ela disse que sim e que gostaria de passar em casa, deixar as bagagens e ir ver dona Luiza. O encontro foi um Presente de Natal... Ao ver Rosana, dona Luiza instantaneamente, reagiu à falta de ânimo. Agora sabia que o encontro com o filho estava por vir. As duas conversaram por uma hora. Dona Rosana era sensível e deixou algumas lágrimas rolarem na face. Sabia o quanto dona Luiza precisava desse reencontro, mas o quanto sua irmã sofreria com a revelação de que seu filho adotivo era filho legítimo de seu marido com a doméstica. Além de sentir na pele a traição, a revelação da mãe biológica traria à tona uma verdade nunca dita: José Paulo, Rita e Henrique teriam as suas vidas reviradas.

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 5 - UM ANJO Apesar de não ter dormido à noite, Raquel pulou da cama logo cedo, para ir com Rubens à faculdade, onde aconteceria uma palestra sobre o livro “Dr. Libério – o homem duplo”, de Bariani Ortêncio, cujo tema, segundo o amigo, era de seu interesse. Ao término da palestra, Raquel seguiu sozinha para o colégio, Rubens teria outras atividades na faculdade. Bastante interessada pelo livro, principalmente pelo episódio do transplante de cérebro narrado na ficção, foi à biblioteca da escola fazer um empréstimo, mas a bibliotecária informou-lhe que ali não havia sequer um exemplar daquela obra. - Nossa! Que acervo limitado! – Disse Raquel impressionada. – Seria possível incluir este título na lista de aquisição de livros literários? - Quem sabe? – Respondeu a bibliotecária, secamente. Mais tarde, Rubens tentou encontrar-se com Raquel na porta da escola, mas ela já havia saído. Seguiu para sua casa e a viu entrar em uma livraria. Ela estava à procura do livro. - Infelizmente não temos. Talvez você o encontre na livraria em frente. – Disse a vendedora. De fato, Raquel encontrou o livro na livraria indicada, mas ao perguntar o preço, percebeu que não tinha dinheiro suficiente para comprá-lo. Contentou-se em folheá-lo. Rubens entrou na livraria e pôs-se a observar Raquel de longe, sem que ela o visse. Ao sair, deparou-se com ele já na porta: - O que você está fazendo aqui? - Estava passando e a vi entrar, então resolvi te esperar para oferecer-lhe uma carona. - Que bom! Obrigada! No caminho conversaram sobre vários assuntos, mas sempre acabavam voltando para a doença da mãe. O celular de Raquel tocou, era a secretária do doutor Marcílio marcando uma nova consulta. O médico queria comunicar-lhes o resultado dos últimos exames de dona Luiza. Na véspera de Natal, tia e sobrinha dedicaram-se à arrumação da casa e à preparação da ceia. A cozinha tinha um cheiro natalino! Os pratos, que se resumiam em um chester, uvas, vinho e farofa, foram providenciados por elas com muito carinho. Mesmo debilitada, dona Luiza e sua família procuraram viver o verdadeiro espírito natalino: as orações proferidas por tia Zilda, naquela noite, ajudaram a renovar as esperanças de todos que ali estavam. Na cabeça de Raquel, era o momento de comemorarem a descoberta da família Albuquerque, ainda que encontrassem resistência por parte de seus membros. Durante toda a noite, os rapazes disputaram a atenção de Raquel. A pedido de Rubens, Márcio vestiu-se de Papai Noel para entregar os presentes de Natal à família Silva. Raquel ganhou de Paulo César um MP4 e, de Rubens, o livro que ela tanto queria, o que a deixou muito feliz. Para dona Luiza, Papai Noel entregou um perfume, do qual ela gostou muito; e tia Zilda ganhou um jogo de panelas. Na casa da família Albuquerque, o Natal foi suntuoso, como de costume; porém ocorreu num clima tenso, pois dona Rosana Almeida, apesar de ter consciência de que aquele não fosse o momento oportuno, estava ansiosa para falar à irmã sobre o que acabara de descobrir em relação ao passado e à vida de seu sobrinho Henrique. Durante a ceia ficou observando o comportamento do cunhado José Paulo, imaginando se ele ainda traía sua irmã como fizera no passado. Houve troca de presentes e, antes que a festa acabasse, receberam um telefonema de Henrique. A tia disse ao sobrinho que estava ansiosa pela sua chegada e que tinha uma grande surpresa para ele. Ao dizer-lhe isto, chorou e entregou o telefone à irmã. Na manhã do dia 26, doutor Marcílio, dona Luiza e Raquel reuniram-se com o doutor Renato em seu consultório: - Dona Luiza, a maioria dos casos de leucemia, independente do tipo e evolução, necessita de quimioterapia (medicamentos que destroem as células malignas), tratamento que a senhora está fazendo e com o qual temos alcançado nossos objetivos. Entretanto, doutor Marcílio e eu constatamos que além da quimioterapia, a senhora deverá mesmo fazer o transplante de medula. - Doutor, esse transplante vai mesmo me curar? - Dona Luiza, o transplante de medula óssea é um dos recursos utilizados para algumas doenças malignas que afetam as células do sangue. Ele consiste na substituição da medula doente, ou deficitária, por células normais, com o objetivo de reconstituí-las. O transplante pode ser autogênico, quando a medula ou suas células precursoras provêm do próprio indivíduo transplantado; e é dito alogênico, quando a medula ou as células provêm de um outro indivíduo. Também pode ser feito a partir de células precursoras de medula óssea, obtidas do sangue circulante de um doador, ou do sangue de cordões umbilicais. - O que isso significa, doutor? – Perguntou Raquel. - Quando analisamos os exames de sua mãe, percebemos que seu caso é grave, mas é possível a cura, se não perdermos tempo. Com seu nome na fila de transplantes, vamos tentar acelerar o processo e vocês poderão fazer nova campanha junto a familiares, amigos e comunidade. - Doutor, tenho outra pergunta a fazer. - Fale Raquel, quais são suas dúvidas? - Como o Banco de Medula vai saber se o doador é compatível ou não? - O doador precisa atender alguns pré-requisitos, como por exemplo: ter idade entre 18 e 55 anos, fazer um exame clínico que confirme o seu bom estado de saúde, entre outros. Não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação. A doação é feita por meio de uma pequena cirurgia, que dura aproximadamente 90 minutos, em que são realizadas múltiplas punções, por meio de agulhas que são injetadas nos ossos posteriores da bacia, de onde é aspirada a medula. Retira-se, no máximo, 10% da medula do doador, o que não causa qualquer comprometimento à sua saúde. Ficou bem esclarecido? Tem mais alguma pergunta? - Não, doutor, muito obrigada, ficou bem esclarecido sim. Quando isso acontecerá? - Assim que vocês nos apresentarem os possíveis doadores, começaremos os exames. Raquel e a mãe ficaram mais animadas! Começaram a listar nomes de amigos, parentes, colegas dos amigos e, claro, não se esqueceram de Henrique. Chegando em casa, Raquel surpreendeu-se com a presença de duas colegas da escola. Ana e Carolina já a esperavam por mais de 10 minutos. Como dona Luiza estava cansada, Raquel foi acomodá-la primeiro. Enquanto conversavam, Raquel contou do irmão e dos exames propostos pelos médicos. As amigas disseram que não tinham idade para serem doadoras, mas que poderiam ajudar, mobilizando a campanha. Por um instante, Raquel quis viver aquela emoção de ter amigas: começou a narrar seu Natal, falou dos amigos Rubens e PC e dos presentes que ganhara. Correu até o quarto para pegar o MP4 e o livro. Ana disse que já havia lido aquela obra e que gostara muito da história. Raquel se queixou da sua falta de tempo para a leitura, um dos seus hobbys prediletos. Ana falou dos autores goianos Bernardo Élis e José J. Veiga, e que na escola participara de uma encenação do conto “A Enxada” de Bernardo Élis. Com este bate-papo, a tarde passou rapidamente e o entardecer de Raquel foi mágico! Sentiu o espírito do Natal renovando sua vida. As amigas tiveram de ir embora, mas voltariam no dia seguinte para colaborarem com a campanha de doadores, juntamente com PC e Rubens. Raquel iria trabalhar. Na tarde do dia 27, após o almoço, Rubens encontrou-se com Ana, Carolina e Paulo César na casa de Raquel, para articularem as ações da campanha. Paulo César ligou seu laptop e viu que havia mais recados no site “QUEM PROCURA, ACHA”; no Orkut, mais participantes. Então, como primeiro passo, Carolina deu a ideia de mandarem, para todos eles, mensagens e scraps pedindo –lhes que se cadastrassem no banco de medula para fazerem os exames solicitados pelos médicos Renato e Marcílio, que os acompanhariam. Seria a primeira tentativa real em busca de doadores voluntários. Todos concordaram e assim o fizeram. Ana se encarregou de fazer um blog. Na comunidade “PELA VIDA DE MINHA MÃE” conseguiram identificar o endereço eletrônico de 57 participantes com idade acima de 18 anos. Enviaram e-mail a todos. No site “QUEM PROCURA, ACHA”, a lista foi menor: 23 endereços cadastrados. A lista crescia, à medida que se lembravam de amigos, parentes e vizinhos. Parentes do interior, professores e até comerciantes do bairro fizeram contatos. Quando Raquel chegou em casa, a mãe estava no sofá, embrulhada com uma coberta de retalhos e os amigos, reunidos em volta da mesa. Contaram a ela as providências tomadas por eles. A satisfação de dona Luiza e Raquel foi enorme! Envolvidos no trabalho nem perceberam o tempo passar. Apesar de ainda ser dia, já passava das sete horas no horário de verão. Despediram-se e cada um levou tarefas para o dia seguinte. Raquel saiu para acompanhá-los até a porta, quando escutou a tia chamar. Entrou correndo e, ao chegar à porta da sala, viu que sua mãe estava tendo uma crise. Rubens, que ainda não havia saído, correu com as duas para o hospital. Depois de medicada, dona Luiza foi internada. Raquel entrou no quarto: - Como está minha mãe, doutor? – Perguntou Raquel com lágrimas nos olhos. - O seu sistema imunológico está muito baixo por causa da quimioterapia. Isto é natural, mas ela vai ter de ficar internada, Raquel! - É grave? - Por enquanto não, mas vamos aguardar. Estamos introduzindo novos medicamentos para que o organismo dela reaja. Por causa da internação de dona Luiza, Raquel apavorou-se e ligou para dona Rosana para saber notícias do irmão Henrique. Dona Rosana confirmou que ele chegaria em dois dias, data em que provavelmente sua mãe receberia alta. A campanha dos amigos estava dando certo. Dez pessoas já haviam procurado os médicos no hospital Araújo Jorge para orientarem-se sobre os exames. Até dona Rosana compareceu ao banco de medula, a fim de ver a possibilidade de ser doadora. Aproveitou para visitar dona Luiza e falar com Raquel. Queria que ela a acompanhasse à casa de sua irmã, para lhe contarem a verdade. Raquel não hesitou. E lá se foram as duas. Embora encorajada por dona Rosana, e ciente da importância de enfrentar tudo aquilo, Raquel tremia quando chegaram à casa dos Albuquerque. Dona Rita era uma dona de casa exemplar: não trabalhava fora, e dedicava-se totalmente ao cuidado com a casa e à educação dos filhos. Marina era a filha mais velha, nascera três anos antes de Henrique. Depois que o menino fora deixado na sua porta, o casal resolveu não mais ter filhos. Henrique sempre foi considerado filho legítimo. Raquel foi convidada a sentar-se no sofá ao lado de dona Rosana Almeida. A irmã começou a falar do passado: - Rita, lembra-se daquela sua empregada, a dona Luiza Silva? - Sim. - Raquel é filha dela. - Mesmo? Realmente você lembra sua mãe. Como ela está? – Rita começou a desconfiar daquela visita. – Mas, sua mãe não havia se mudado para Brasília? - Sim. – Raquel respondeu timidamente. - Rita, temos de ter uma conversa muito séria. A mãe de Raquel precisa de sua ajuda, aliás, da ajuda da nossa família, minha irmã. - O que está acontecendo? Não estou entendendo. – Dona Rita começou a ficar ansiosa. - Não sei como dizer, mas tenho que falar. Antes, porém, gostaria que Raquel lhe falasse sobre dona Luiza. Raquel contou toda a trajetória de sua vida e da vida de sua mãe, desde a morte do pai. Falou e chorou. Entre soluços, contou que a sua maior esperança era encontrar o seu irmão. Nesse momento, as suas mão suavam. Dona Rita mudou o semblante. Não sabia ainda o que estava por vir. - Tá, mas o que minha família e eu temos com isto? - Rita, lembra-se de como o Henrique foi parar na porta de sua casa? Tivemos de nos mudar do Setor Marista porque alguns vizinhos queriam contar-lhe que ele havia sido adotado. - Vocês estão querendo me dizer que meu filho é filho da Luiza? – Rita perguntou isso, chorando e caminhando de um lado ao outro. Estava atordoada. - Sente-se e escute-me, Rita! – Rosana buscou um copo de água com açúcar para a irmã. - O Henrique é, sim, filho da Luiza. Mas a história é mais complicada. Quando Rosana disse isso, o celular de Raquel tocou. Era doutor Marcílio chamando-a. Raquel saiu desesperada. Dona Rosana a alcançou e a levou até o hospital. Rita Albuquerque entrou em desespero. Vários pensamentos invadiram sua alma: “por que isso agora? Querem me tirar meu filho? Eles pensam que contando a verdade, Henrique vai deixar de gostar de mim? O que dona Luiza quer?” Os pensamentos deixaram Rita transtornada. Ligou para o marido a fim de contar o ocorrido, mas ele não atendeu a sua chamada. Raquel nem pôde sentir-se aliviada por ter contado parte da verdade à dona Rita, pois, ao chegar ao hospital, presenciou o sofrimento da mãe causado pela medicação extremamente forte, a que estava sendo submetida. Os remédios eram muito caros e Raquel não teria como comprá-los depois que a mãe saísse do hospital. Paulo César pediu ao tio que ajudasse no que fosse possível, mas o doutor Marcílio disse que não teria como doar todos eles. Então dona Rosana, sabendo das dificuldades, deu o dinheiro a Raquel para que comprasse os próximos medicamentos. Ela agradeceu e disse a dona Rosana: - Meu irmão é uma esperança, uma promessa para a vida de minha mãe, e a senhora é um anjo que apareceu na nossa vida. Nem sei como agradecê-la. - Raquel, eu ainda não fiz minha parte. Ainda não terminamos de contar toda a verdade a Rita. Amanhã voltarei para te pegar, antes de Henrique chegar. Tudo bem? Com um sorriso frágil, Raquel agradeceu e disse a dona Rosana: - Sim. Eu irei, mas vou contar-lhe uma coisa: estou com muito medo. Nunca pensei que viveria uma história como esta, mas minha mãe é muito importante pra mim e é por ela que vou enfrentar esta situação. Até amanhã, dona Rosana! - Até, Raquel!

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 6 - O Encontro A madrugada do dia 29 foi de insônia para Raquel que estava bastante ansiosa. Henrique chegaria naquele dia. Não esperou amanhecer direito para levantar-se e sair. Ainda era escuro, quando ela se dirigiu à casa dos Albuquerque para falar com o senhor José Paulo. Queria sentir-se em paz e resolveu tomar uma atitude que, na sua cabeça, seria a mais correta. Chegou à porta da casa, por volta de 6h40, sentou-se no meio-fio e ficou aguardando a saída de José Paulo, pois, durante toda a noite, ficou a pensar se não seria mais prudente que ele soubesse que Henrique era seu filho, antes da esposa. Na casa dos Albuquerque, a noite também não foi das melhores. No dia anterior, quando a filha Marina e o senhor José Paulo chegaram em casa, dona Rita contou-lhes sobre a visita de Raquel. Ela chorava, dizendo não poder acreditar no que estava acontecendo. Marina tentou acalentar a mãe. José Paulo ficou sem palavras, mas permaneceu firme. Precisava demonstrar segurança à esposa, por isso não podia chorar. Conversaram sobre o assunto até a madrugada. Dona Rita se lembrou de quando dona Luiza, uma bonita mulata, viera trabalhar em sua casa, onde permaneceu por três anos. Fora a primeira babá de sua filha. Nunca soubera o motivo pelo qual saiu de lá, sequer imaginou que ela pudesse estar grávida. Ao relatar essas lembranças, dona Rita não conseguiu conter as lágrimas, pois, além de estar receosa de perder o filho, sentia-se bastante comovida com a situação de dona Luiza Silva. Enquanto a esposa sofria com aquela revelação, o marido pouco externava o que sentia, apesar de estar confuso com a situação. Voltou àquela noite em que se rendera aos encantos de Luiza e ficou a pensar na possibilidade de Henrique ser seu filho, já que ambos se pareciam muito. Já eram 7h50 quando o portão da garagem se abriu. Raquel levantou-se, colocando-se à frente do carro. José Paulo freou e, abrindo a porta do veículo, exclamou: - Você é louca, menina! Como entra assim na frente de um carro em movimento? Eu poderia ter atropelado você. Raquel não fez cara de boa vizinhança, mas, educadamente, cumprimentou o dono da casa: - Bom dia, seu José Paulo! Sou Raquel, filha de dona Luiza Silva, uma ex-funcionária sua. O senhor lembra-se de minha mãe? José Paulo,ainda bastante angustiado, fez que sim com a cabeça. - Eu gostaria de falar com o senhor em particular. Foram juntos até uma pracinha, que ficava ali mesmo no bairro, não muito longe da casa dos Albuquerque. Procuraram um banco mais afastado, onde pudessem conversar tranquilamente. Raquel relatou-lhe o que havia dito a dona Rita no dia anterior, e concluiu: - Minha mãe está muito doente, precisa urgentemente de um transplante de medula óssea, mas, infelizmente, ainda não encontramos o doador, pois eu não sou compatível. A nossa principal esperança é Henrique, o filho que ela abandonou na sua porta, ao nascer. Mas, ao mesmo tempo, temos receio da sua reação ao saber a verdade; pode ser que ele se recuse a ajudá-la. - Rita já me pôs a par de tudo. Estamos sofrendo muito com esta história, pois Henrique não sabe que é filho adotivo. Nós o criamos com a mesma dedicação, com o mesmo amor com que foi criada nossa filha mais velha. Para nós não há diferença entre eles. Somos muito felizes com os nossos dois filhos. - Essa era mesmo a intenção de minha mãe. Queria que o filho dela fosse feliz e bem criado. Mas, tem uma coisa que eu preciso dizer ao senhor. – Raquel tremia e suas mãos suavam. – Lembra-se do que aconteceu entre o senhor e minha mãe? José Paulo se angustia ainda mais e apenas murmura: - Sim. - O Henrique é filho de vocês. Minha mãe, que se arrependera do que fizera, escondeu a gravidez, pois temia a reação de dona Rita. Como tinha certeza de que o senhor era o pai, ela resolveu deixá-lo na porta de sua casa, pois sabia que ele seria criado, com o mesmo amor dedicado à Marina. Com voz trêmula e abafada, José Paulo levantou-se do banco, demonstrando nervosismo e disse: - Meu Deus! Por que sua mãe não me contou na época? Tudo isto poderia ter sido evitado. Eu a teria levado a uma clínica para tirar a criança. Raquel ficou boquiaberta. Não estava reconhecendo o homem que acabara de dizer-lhe que amava Henrique. - Nossa! O que estou dizendo?! É do meu filho que estou falando! José Paulo sentou-se e chorou. Um turbilhão de pensamentos invadiu a sua mente naquele momento. Raquel, aliviada, mas sem ação, chorou também. Muito emocionada disse: - O Henrique é meu irmão, ele poderá salvar a vida de minha mãe. E isso é o que importa agora. José Paulo se recompôs e disse: - Por muito tempo fiquei preocupado, tinha medo que Rita descobrisse o que ocorrera entre mim e sua mãe. Quando ela foi embora, senti-me aliviado e prometi a mim mesmo que nunca mais trairia minha esposa. Nunca contamos a Henrique a verdade sobre a chegada dele em nossas vidas. - Minha mãe também nunca nos contou essa história. Meu pai morreu sem saber, e eu só soube há poucos meses. Mas o que importa agora é que ela está muito debilitada, está fazendo quimioterapia e precisa de um transplante para ser curada. Eu confio muito em Deus e tenho certeza de que conseguiremos um doador e que ela ficará curada. Por alguns instantes, Raquel silenciou-se e enxugou as lágrimas que teimavam em escorrer-lhe pelo rosto. Suspirou profundamente e, num misto de alívio e dor, continuou o diálogo: - Prometi a dona Rosana que hoje voltaria a sua casa para continuar a conversa iniciada com dona Rita. Mas agora que já sabe de tudo, é melhor que seja o senhor a contar-lhe o restante da história. José Paulo se comprometeu a pensar no seu pedido: - Você entende que é uma situação muito delicada. Preciso de tempo. Não sei como dizer toda a verdade sem magoar minha família. Mas, de qualquer forma, me comprometo a ajudar sua mãe no que for possível. José Paulo deixou Raquel numa parada de ônibus na Avenida T-9. Antes que ela descesse do carro, ele informou-lhe que no final da tarde iriam buscar Henrique no aeroporto. Ela pediu-lhe para estar na recepção do irmão, mas ele não consentiu: - As coisas não se resolvem assim. Tenha calma! Uma coisa de cada vez. Raquel seguiu direto para o hospital. Dona Luiza receberia alta naquela manhã. Ao entrar no ônibus, lembrou-se de que havia combinado com Rubens que ele a pegaria às 10h na sua casa. Ligou para o amigo que já estava a caminho. Desculpou-se e disse-lhe que se encontrariam no hospital onde ela lhe explicaria o que ocorrera. Quando Raquel chegou ao hospital, Rubens já a esperava, ansioso. Percebeu que ela estava mais triste e muito abatida. Mas, ainda assim, muito bonita. Nem mesmo as marcas de uma noite mal dormida e do sofrimento dos últimos meses conseguiam ofuscar aquele rosto naturalmente lindo. - O que houve, Raquel? De onde você está vindo? -Da casa dos Albuquerque. Durante toda a noite fiquei pensando em como continuar aquela conversa com dona Rita. Então achei melhor contar tudo para o seu José Paulo. Acha que fiz besteira? - Acho que tomou a decisão acertada. Vamos ver a sua mãe. O médico já se encontrava no quarto. Mesmo muito debilitada, dona Luiza iria aguardar em casa o resultado dos exames dos doadores espontâneos. Assim que tivesse alguma novidade, o hospital entraria em contato com eles. No caminho para casa, Raquel contou à mãe a conversa que tivera com o senhor José Paulo, há poucas horas. Bastante envergonhada, dona Luiza pediu perdão à filha por expô-la a situações tão constrangedoras. Chorou baixinho e não disse mais nada até chegar em casa, onde encontrou dona Celeste, que viera de Brasília especialmente para visitá-la. Ao ver a ex-patroa, dona Luiza sorriu. Naquele momento, aquela visita representava um pouco de alívio para tamanho sofrimento. No aeroporto, a recepção de Henrique foi calorosa, com abraços fraternos e muita alegria. Porém, no trajeto para casa, o clima era um tanto tenso. José Paulo, Rita e Rosana, muito nervosos, estavam bastante calados, só Henrique falava. Ao chegarem em casa, Henrique, eufórico, começou a desfazer suas malas e a distribuir as lembranças que trouxera da viagem, quando Rita e Rosana o interromperam, chamando-o ao escritório: - Henrique, meu filho! – chamou Rita. – Venha cá, por favor! Precisamos conversar com você. - O que está acontecendo? – Perguntou o rapaz percebendo, só naquele momento, o nervosismo da família. Dona Rita, apoiada pelo marido e pela irmã, começou: - Meu filho, primeiramente, quero te pedir perdão! Temos uma revelação a fazer-lhe e espero que nos entenda. - Do que a senhora está falando, mãe?- Perguntou Henrique procurando entender o que estava acontecendo. Dona Rita não conseguia falar, pois chorava muito. - Mãe, fala logo! Estou ficando muito preocupado. O que está acontecendo? Dona Rita buscou forças e, entre soluços, contou-lhe que ele não era seu filho biológico. Henrique, levando as mãos à cabeça, olhou para a mãe e disse: - O que a senhora está me dizendo? Que loucura! - Meu filho, nós nunca tivemos informação alguma sobre sua mãe biológica. Só agora, por uma fatalidade, ela apareceu. Num ímpeto, Henrique se jogou nos braços da mãe. - Mãe, eu não acredito nisso. - E apontando para si mesmo disse - Já sou um homem! Por que isso agora? Olhem o que vocês estão fazendo comigo! Rosana tentando acalmar Henrique disse-lhe: - Meu bem, escute! Nós amamos você e nada poderá mudar isto. - Mas, tia, o que vocês estão querendo que eu faça? Que eu apague toda minha história? - Henrique, ninguém está te pedindo para esquecer que a Rita e o José Paulo são seus pais, muito menos para você abandoná-los. Mas queremos que aceite que tem uma mãe biológica que, neste momento, está precisando muito de você. Vamos fazer assim, hoje você descansa e amanhã iremos até a casa dela para se conhecerem. - Quem é essa mulher? – Perguntou Henrique. - O nome dela é Luiza, meu filho. – Respondeu Rita. – Trabalhou em nossa casa por um tempo cuidando de sua irmã. - Como vocês souberam disso? - A sua filha nos procurou. - Então, tenho também outra irmã? - Sim, o nome dela é Raquel. E está ansiosa para conhecê-lo. – Respondeu Rosana. Henrique concordou. No dia seguinte, iria conhecer dona Luiza Silva e Raquel. Após o almoço, Raquel aproveitou que a mãe estava em companhia de dona Celeste e foi descansar um pouco. Apesar de estar muito tensa, ao imaginar como seria o encontro com o irmão que já deveria ter chegado, estava também muito cansada. Dormiu durante toda a tarde. Acordou, sobressaltada, com o toque do celular. Era dona Rosana avisando-lhe que no dia seguinte iriam à sua casa. Raquel, eufórica, correu para dar a notícia à mãe. Dona Celeste, que já se despedia de Dona Luiza, apertou-lhe as mãos, num gesto de apoio: - Está vendo, Luiza, vai dar tudo certo. A mãe pediu a Raquel que providenciasse a arrumação da casa. Queria receber o filho num ambiente agradável, limpo. Eles não tinham luxo na casa da tia Zilda, mas eram asseados. Dona Celeste fez algumas orações com dona Luiza e foi embora. Não queria viajar tarde da noite. No dia seguinte, dona Luiza levantou-se mais cedo que de costume. A visita da família Albuquerque era pura magia! Rever dona Rita, José Paulo e Marina, conhecer o filho Henrique significava viver momentos de muita emoção, uma mistura de felicidade e de dor. Bem mais disposta tomou banho, amarrou seu lenço à cabeça, passou o perfume que ganhara de Rubens no Natal, e pôs o vestido colorido, que Raquel comprou para que ela usasse quando fosse ao hospital. Deitou-se novamente e, enquanto aguardava as visitas, foi tomada por uma ansiedade de adolescente. Era o momento do encontro. Conheceria o filho: - Deus está me dando uma chance! Para ela, a sua doença tinha sabor de punição por ter abandonado o filho no passado. Era a oportunidade de se redimir. Quando a família Albuquerque chegou, Raquel os recepcionou com um café feito pela tia Zilda. Rita e Rosana foram as primeiras a irem ao quarto de dona Luiza. A conversa foi tranquila. Dona Rita queria ouvir de Luiza se realmente aquela história era verdadeira. Ela confirmou tudo, menos a paternidade do rapaz. Raquel havia pedido à mãe que não lhe contasse esse fato. Chegou a vez de Henrique. Dona Luiza ficou emocionada ao ver o filho. Como parecia com o pai! Era mesmo muito bonito. Naquele momento não pôde conter as lágrimas; chorou por não tê-lo visto crescer. Já era um homem feito. Ele não demonstrou nenhuma reação. Sentou-se à beira da sua cama para ouvi-la. Então, dona Luiza contou-lhe sobre a gravidez, o parto, a necessidade de deixá-lo na porta dos Albuquerque, sua ida para a capital federal, o seu casamento com Otacílio Silva, o pai de Raquel e, finalmente, sobre a sua doença. A conversa durou mais de duas horas. Atordoado com tantas surpresas, Henrique nem se lembrou de questionar a mãe sobre a sua paternidade e, como ela já havia prometido a Raquel, também não lhe disse nada. Após a conversa, mãe e filho dirigiram-se à sala de mãos dadas. Aliviada, dona Luiza disse-lhes que Henrique já sabia de toda a verdade. Desde a descoberta da doença de dona Luiza, aquele era o dia mais feliz da sua vida e da vida de Raquel. Estavam recuperando naquele momento parte de um passado mal resolvido. Antes de partirem, Henrique combinou com Raquel de irem mais tarde ao hospital, falar com o doutor Renato. No fim da tarde, como combinado, Raquel encontrou-se com Henrique no hospital. Embora fosse folga do médico naquele dia, ele se prontificou a atendê-los. Depois de ouvir o que o médico disse sobre a evolução da doença de sua mãe, Henrique disse a doutor Renato que gostaria de fazer os exames o mais rápido possível, assim que passassem as festas de fim de ano. Henrique levou Raquel para casa e acabou fazendo uma nova visita a dona Luiza. Foi uma visita rápida, mas ela pôde ouvir do próprio filho que ele faria os exames e, se pudesse, seria seu doador. Na manhã do dia 30, Raquel não acordou bem. Algo a incomodava, mas ela não sabia bem o que era. Somente após uma ligação de Paulo César convidando-a para festejar o réveillon no dia seguinte, é que se lembrou: 30 de dezembro era o dia do aniversário de seu pai. Então, Raquel foi a uma capela, próxima de seu bairro e rezou: - Senhor Jesus, hoje meu querido pai completaria 45 anos. Sei que aí no céu há uma imensa festa para comemorar este dia, mas ele tem feito muita falta aqui. O senhor sabe o que eu tenho passado, o quanto minha mãe tem sofrido. Se o meu pai estivesse aqui comigo seria mais fácil enfrentar essa situação. Apesar de saber que temos de viver em conformidade com a Tua vontade, Ó, Pai, ouça a minha prece: não leve minha mãe, ela é a única coisa que tenho na vida. Faça com que meu irmão seja possa salvar a vida dela. Senhor, para que eu possa rir novamente e o meu coração se encha de alegria, cure minha mãe. Amém!

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Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 7 - Descobrindo o amor Henrique ainda estava muito atordoado com os últimos acontecimentos. No caminho de volta, resolveu parar na casa de um dos seus amigos. Daniel era mais velho e um bom conselheiro. Precisava conversar com alguém sobre tudo o que estava acontecendo. Na conversa que tivera com a mãe não ficara sabendo sobre o seu pai biológico e isso estava incomodando-lhe bastante. Porém achava que não era oportuno perguntar-lhe sobre isso, já que ela se encontrava tão debilitada. Preferiu desabafar com o amigo que, depois de ouvir toda a história, cumprimentou-o pela nobre atitude, pois Daniel também achava que naquele momento dona Luiza teria de ser poupada de emoções muito fortes. Sugeriu-lhe, ainda, que conversasse melhor com seus pais adotivos, talvez eles tivessem alguma pista. O rapaz saiu da casa do amigo decidido que faria tudo para ajudar dona Luiza. Em casa, encontrou o pai na cozinha. Pensativo, José Paulo não percebeu que o filho havia chegado. - Oi, pai. - Oi, filho, não o vi entrar. - Fui ao hospital e decidi fazer os exames. - Tinha certeza de que os faria. - Pai, se a dona Luiza é minha mãe biológica, quem poderia ser meu pai? Ninguém me falou nada sobre isso. Agora que comecei a descobrir quem sou, quero saber de tudo. O senhor conheceu algum namorado da dela na época em que ela trabalhou aqui. José Paulo estremeceu. Sentia que não podia mais adiar aquele momento. Ficou calado por alguns instantes e decidiu contar sobre o que acontecera entre ele e dona Luiza. - Henrique, há dezenove anos, sua mãe resolveu fazer uma visita a uns parentes, no interior do estado, e levou consigo Marina e Rosana; foi uma viagem rápida, de uns três dias apenas. Eu não fui, pois tinha muito trabalho. Fiquei sozinho em casa e, em uma noite, acabei me envolvendo com Luiza. A partir do momento em que fiquei sabendo dessa história, não tive mais sossego, pensando na possibilidade de você ser meu filho Henrique ficou estarrecido e não conseguiu dizer mais nada. Deu as costas para o pai e saiu sem dizer uma palavra. Dona Luiza estava mais forte para continuar enfrentando o tratamento, pois a verdade lhe tinha proporcionado um certo alívio. Raquel também se sentia melhor. Pediu autorização à mãe para passar o réveillon com Rubens, Paulo César, Ana e Carolina. Dona Luiza consentiu. Rubens ficou maravilhado ao ver o quanto Raquel estava linda e não disfarçou o seu encantamento por ela, dando-lhe um forte abraço. Tímida Raquel perguntou: - Para onde vamos? - À praça Cívica para vermos a queima de fogos, depois vamos a uma boate. - Ah, que bom!Quero mesmo dançar. Estou precisando me distrair. Só que não poderei ficar até o amanhecer por causa de minha mãe. - Tudo bem. Quando quiser, viremos embora. Basta chamar. - Onde estão os outros? - Vamos buscar a Ana na sua casa, a Carolina e PC já estão nos esperando no local combinado. - Então vamos. Quando chegaram à praça, Rubens apresentou Raquel e Ana para todos os amigos da faculdade que estavam no grupo. Paulo César chegou com Carolina. À noite prometia. Raquel chegou a pensar em convidar Henrique, mas não tinha intimidade para isso. Ficaram próximos ao palco onde aconteceriam os shows. A noite estava linda! A música estava animada, todos dançaram. Raquel e Rubens conversaram sobre o ano que estava findando, recordaram toda a trajetória da sua mudança de Brasília para Goiânia e sobre o tratamento da mãe. Falaram das tristezas, mas fizeram planos para o ano vindouro. E, pela primeira vez, desde que chegou a Goiânia, Rubens pôde ver no rosto de Raquel uma expressão de felicidade. Ela lhe confessou a sua real esperança. Acreditava na cura da sua mãe. Uma mensagem chegou ao celular de Raquel, era Henrique desejando-lhe feliz ano novo. A mensagem dizia: “Raquel, desejo a você e a sua mãe um ano de muita paz! Henrique.” Ela ficou feliz com a lembrança dele, mas chateou-se por ele referir-se à dona Luiza como “sua mãe”, apesar de entender que não poderia ser diferente. Retribuiu a mensagem: “Desejo a toda sua família muita saúde e harmonia no ano que se inicia!” Raquel. Rubens pegou as mãos de Raquel, olhou-a nos olhos e disse-lhe o quanto gostava dela: - Raquel, a nossa amizade é muito importante para mim. Quando me mudei de Brasília, pensei que a perderia, mas com a vinda de vocês, enchi-me de alegria. Jamais esquecerei os momentos em que estivemos juntos, pois são os melhores da minha vida. - O que deu em você? – Raquel sorriu. - É que estou tentando te dizer, Raquel, é que meus sentimentos vão além da amizade. Rubens aproximou-se mais de Raquel, tocou sua face com carinho e beijou seus lábios suavemente. Em seguida disse-lhe: - Estou apaixonado por você. Raquel correspondeu ao beijo e ficou com Rubens durante toda a noite. Quando os amigos os viram juntos, fizeram a maior farra. - Já não era sem tempo, Raquel!? – Falou Carolina, abraçando a mais nova amiga. - Não comecem! A cada manifestação dos amigos, Rubens beijava Raquel e fazia-lhe carinhos. - Eu acho que só uma pessoa não está gostando disso! – Ana disse olhando para PC. - Eu!? Você está enganada. Eu gosto da Raquel, sim, mas como amiga. Tenho muito carinho por ela. Admiro a sua coragem e seu espírito de luta. – E, terminando sua defesa, Paulo César abraça Carolina. Surpresa, Carolina corresponde ao abraço de PC. - Deixem de ser maldosos, PC e eu somos bons amigos já algum tempo. – Completou Raquel. - Mas agora você é minha namorada. – Muito feliz, Rubens não parava de beijá-la. - Eu também sempre gostei de você... - Disse Raquel, enquanto os amigos foram se afastando. Queriam deixá-los sozinhos. -... mas a minha situação financeira me impedia de aproximar de você. Primeiro porque percebia um certo preconceito seu em relação a minha atividade de catadora de latinhas. Além disso, sua mãe não gostava de mim. - Que isso, Raquel! Eu não sou preconceituoso; apenas não gostava de ver você passar por aquilo. Quanto à minha mãe, ela realmente implicava com meus sentimentos em relação a você. Mas, com a doença da sua mãe e suas atitudes, percebeu que é uma moça determinada. Sabe o quanto você é solidária e admira tudo o que tem feito por sua mãe. Outro dia, me disse que toda boa filha, tem tudo para ser uma boa esposa. - Nossa! Ela pensa isso tudo de mim?! – Raquel ficou admirada. - Vamos dançar? - Vamos. A alegria dos dois contagiava a todos. Era quase meia noite. Raquel chamou Rubens e os amigos e combinaram que fariam pedidos no momento da virada, e pediu a todos que incluíssem nos seus pedidos a saúde de sua mãe. A contagem regressiva foi acompanhada de fogos de artifícios e champanhe. Raquel só não estava mais feliz porque a mãe, a tia e o primo Márcio não estavam ali com ela. O ano novo começara cheio de expectativas por uma vida nova. A queima de fogos durou mais de vinte minutos. Da praça Cívica, foram a uma boate. Queriam continuar festejando. Henrique teve um réveillon familiar. O rapaz pôde contar sobre o intercâmbio na Europa. Mostrou a todos as fotos que estavam em seu pen driver e, com os primos, olharam seu Orkut, falando sobre cada lugar visitado. Na Inglaterra, morava com a família Brown. A mãe se chamava Ellen e o pai Peter. Ele também tinha irmãos: Frank e Medley. Por isso ele já sabia como era ter outros pais. Talvez esta experiência estava ajudando a aceitar sua história de vida. Dias depois, Henrique foi com o pai até o hospital para fazer os exames solicitados pelo doutor Renato. No caminho, retomou o assunto sobre sua paternidade. José Paulo ficou muito constrangido, mas o diálogo entre eles foi pacífico. Henrique disse ao pai que gostaria de fazer o exame de DNA. Precisavam confirmar as suas suspeitas. José Paulo concordou, mas a conversa foi interrompida com a chegada deles ao hospital. Foram encaminhados para o laboratório, onde foram realizados todos os exames. O resultado sairia dali três dias. Henrique queria muito ser compatível para ajudar dona Luiza. As expectativas foram vivenciadas por todos. Ao pegarem o resultado, Henrique convidou Raquel a ir com ele até o consultório do doutor Renato. O médico olhou os exames e, para tristeza de todos, constatou que Henrique não era compatível. Raquel não conseguiu disfarçar sua decepção: - Como é possível, doutor? Voltamos à estaca zero? - Não, Raquel, eu disse a vocês que isso poderia acontecer. Nem sempre parentes são doadores compatíveis. -Sinto muito por isto, Raquel. Queria muito ser doador, mas continuarei ajudando vocês no que for possível. Saíram do consultório cabisbaixos. Raquel, preocupada em continuar procurando um doador e, Henrique, em iniciar sua próxima batalha: o exame de DNA, já que o seu pai havia concordado com ele. Decidira que só contaria a dona Rita toda a verdade quando tivesse certeza de que era mesmo filho de José Paulo. Henrique acompanhou Raquel até sua casa, pois, apesar de decepcionado, ele próprio queria dar a notícia a dona Luiza. Além do mais, resolveu que deveria falar-lhe também sobre a conversa que tivera com o pai. Achou difícil falar sobre o assunto com a mãe, mas acabou encontrando a melhor maneira de dizer: - Dona Luiza, meu pai me contou sobre o envolvimento que vocês tiveram no passado e da possibilidade de ele ser meu pai biológico. Estou preocupado com minha mãe, pois ela ainda não sabe. Pensei em contá-la somente depois que tivermos certeza, por isso gostaria de fazer um exame de DNA, se a senhora concordar. - Tenho certeza de que ele é seu pai, mas farei o que você quiser, meu filho. - Posso então falar com meu pai que a senhora concorda? - Pode. - Muito obrigado! Quero que saiba, também, que estou muito triste por não poder ser seu doador. - Eu sei disso, meu filho! Quero agradecê-lo mais uma vez por ter se disposto a fazer os exames para me ajudar. Muito obrigada! Henrique despediu-se e foi embora. Com a notícia de que Henrique não era compatível, intensificaram-se as buscas por mais doadores. Paulo César, Raquel e Rubens voltaram à campanha por meio do blog “CÂNCER MATA” – criado por Paulo César, pela comunidade do Orkut “PELA VIDA DE MINHA MÃE” e pelo site “QUEM PROCURA, ACHA”. Algumas pessoas próximas, que ainda não haviam feito exames, foram sensibilizadas a participar. Dias depois, o resultado do exame de DNA comprovava que José Paulo era mesmo o pai de Henrique. No caminho para casa, José Paulo disse a Henrique: -Agora preciso encontrar uma forma de contar tudo para Rita. -É, pai! Isso não vai ser nada fácil. Minha mãe vai sofrer muito. Ela não precisava passar por isso. Apesar de estarem vivendo momentos de indefinição, pois não haviam encontrado o doador, dona Luiza percebeu que a filha estava mais feliz. Imaginou que pudesse ser a aproximação com Henrique, mas depois percebeu que não era só isso. Um dia, ao chegar do trabalho, Raquel chamou a mãe para uma conversa: - Mãe, precisamos conversar. - O que está havendo, Raquel? Há alguns dias estou te achando mais alegre Você está com um ar de menina apaixonada! - Vocês mães não têm jeito! Descobrem tudo, mesmo quando tentamos disfarçar. Dona Luiza perguntou: -Quem é? -Eu e o Rubens estamos namorando, mas preciso saber se a senhora concorda. - Concordo sim, minha filha e estou feliz! No início, achava que ele queria se aproveitar, mas, hoje, acredito que ele gosta de você. Raquel ficou exultante com o apoio da mãe. Passou uma mensagem para Rubens contando sobre a conversa. E ele respondeu: “Meu amor, gosto muito de você.”

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Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 8 - Quando a verdade vem à tona A doença de dona Luiza fez com que Henrique se envolvesse cada vez mais com a família Silva, fortalecendo, assim, o laço de amizade entre ele e Raquel. Na primeira semana do mês de janeiro, dona Luiza teve que se submeter a uma nova sessão de quimioterapia. No hospital, recebeu várias visitas, inclusive de dona Rita e de Rosana. Henrique também foi visitá-la e, na portaria do hospital, encontrou-se com Ana, que já estava indo embora. Cumprimentou-a com um beijo na face e perguntou-lhe por Raquel. A amiga disse que ela havia saído para lanchar com o namorado. Enquanto esperava, Henrique ficou por ali, batendo papo com a garota. Ele demonstrava um certo interesse por Ana, achava-a atenciosa e meiga com os amigos. Ela lhe disse que estava estudando para o vestibular, desde o primeiro ano do ensino médio, e falou de sua aptidão para o desenho. - Tenho bastante livros dessa área que poderão te interessar. Por que não passa em minha casa qualquer dia desses para dar uma olhada? Posso emprestar-lhe. - Boa idéia, prometo que logo te farei uma visita. Você também se interessa por desenho? - Não para seguir carreira. Serei concorrente do PC no vestibular de medicina da UFG. Raquel e Rubens chegaram, e Ana despediu-se de Henrique, prometendo-lhe que em breve passaria em sua casa. Henrique subiu com os amigos até o quarto de dona Luiza. - Meu pai ainda não contou a minha mãe sobre a minha paternidade. Ele não teve coragem. - Mas ele se comprometeu que lhe contaria logo depois do ano novo. Se deixar passar muito tempo, sua mãe ficará mais magoada. - Ele sabe disso. A Marina já sabe, contei tudo a ela. - Que bom! Se não contarem o quanto antes, será pior para todos. Eu senti que sua mãe é compreensiva. - Isso é verdade, Raquel! Ao chegarem ao quarto, Henrique surpreendeu-se ao encontrar sua mãe e a tia Rosana: - Não sabia que vocês estavam aqui! - Boa tarde! – Raquel cumprimentou-as. Doutor Renato também entrou no quarto, mas dona Luiza tinha acabado de dormir. Os medicamentos a deixavam muito sonolenta. Ao ver Henrique, o médico lhe disse: - Henrique, você não pôde ser o doador de dona Luiza, mas hoje entrou em contato conosco um receptor, cadastrado no Banco de Medula, com o qual você é compatível. Ele mora em São Paulo e gostaria de falar-lhe sobre a possibilidade de você ser seu doador. - Nossa! Mas será que devo, mãe!? – Henrique se dirigiu à dona Rita. - Por que não, meu filho? Dona Rita decidiu-se que também faria seu cadastro no Banco de Medula. Procuraria o doutor Renato, ou o doutor Marcílio para maiores informações. Seu tipo sanguíneo era o mesmo de Henrique e de dona Luiza. Quem sabe poderia ter uma chance de salvá-la? Mas, como não queria causar expectativas, faria tudo em silêncio. No dia seguinte, sem contar nada sobre sua decisão, foi até o hospital, conversar com o doutor Renato. Marcou os exames para a manhã seguinte, pois deveria estar em jejum. Enquanto isso, José Paulo tentava provocar uma situação para contar sobre o resultado do exame de DNA à esposa. Ä noite, Henrique e Marina, a convite de Raquel, foram a uma reunião na casa de Paulo César, em que decidiriam o rumo da campanha em favor de dona Luiza. Discutiram a nova tentativa para encontrar doadores compatíveis. Decidiram que deveriam deixar registrado, nos sites, o tipo de sangue da receptora. Marina também digitou um texto que seria enviado para todos os Orkuts dos que estavam presentes: “Minha mãe Luiza Silva é portadora de Leucemia e precisa de um transplante. Procuro um doador de medula óssea cujo tipo sanguíneo seja O+. Se você tem mais de 18 anos e quer salvar uma vida, procure-me. Meu nome é Raquel, moro em Goiânia, meu e-mail é raquel.silva@gmail.com. Entre em contato comigo através da comunidade no Orkut PELA VIDA DE MINHA MÃE ou pelo blog CÂNCER MATA. No site QUEM PROCURA, ACHA há um perfil dela. Ajude-nos!. Raquel” Todos enviaram scraps para a página de endereços dos amigos, e dos amigos dos amigos. Isso significava uma lista de mais de 10 mil pessoas. Quando entraram no site QUEM PROCURA, ACHA tiveram uma surpresa: uma ex-colega de colégio entrara no site e deixara uma mensagem para Raquel, dizendo que na escola onde ela estudara, em Brasília, mais de 48 pessoas estavam se cadastrando no Banco de medula, para ajudarem sua mãe. Raquel se emocionou, Rubens a abraçou e todos resolveram dar uma pausa nos trabalhos. Paulo César e Carolina foram até a cozinha providenciar um lanche. Ele aproveitou a oportunidade para dizer-lhe que estava interessado por ela e, num ímpeto, abraçou-a. Ela sorriu e perguntou: - Sério!? - Sim. Há algum tempo venho te observando e sinto que estou gostando de você. No momento em que os dois se beijariam, Ana entrou na cozinha: - Este suco fica ou não fica pronto? Enquanto isso, na casa dos Albuquerque, José Paulo aproveitou a ausência dos filhos para conversar com Rita. - Rita, preciso falar com você. - Eu também; hoje estive no hospital visitando Luiza. – disse Rita. - Ah, é? E como ela está? - Não está nada bem! Os remédios são fortes e a debilitam demais. Mas e você, o que gostaria de falar comigo? José Paulo desligou a TV e encaminhou-se ao sofá, onde Rita estava sentada. - Rita, tenho algo muito sério a lhe dizer. Quero aproveitar a saída dos meninos, pois a história é longa. - Que história é essa? Quando você fala assim, é porque o assunto é realmente sério! Marido e mulher encaminharam-se até o quarto e José Paulo sentou-se à beira da cama, colocou as mãos sobre os joelhos, olhou para Rita e disse: - Sente-se aqui ao meu lado, e segure as minhas mãos! Rita sentou-se, segurou as mãos de José Paulo que, olhando nos olhos da esposa, exclamou: - Quero que saiba de uma coisa: você é a única mulher que amei e que amarei pelo resto de minha vida. Você é tudo que desejei, a mulher que amo e que sempre esteve do meu lado. Mas, preciso lhe contar sobre algo que aconteceu há muitos anos, uma história que tem me tirado o sono. Desde que Raquel esteve aqui não durmo direito. - O que tem a Raquel a ver com o que vai me contar? - Calma. Escute-me. Eu lhe traí no início do nosso casamento, eu era um rapaz muito jovem, não tinha ideia da loucura que eu estava cometendo. Foi fraqueza minha. Você havia viajado com a Marina para uma visita a seus familiares e eu fiquei só. Lembra-se? - Fale logo! – disse Rita com voz alterada. - Eu fiquei só e acabei assediando a Luiza. Ela não teve culpa. Depois, quando vocês voltaram é que percebi o quanto fui leviano. Notei o quanto eu estava errado e que deveria ter respeitado sua ausência. Hoje, sei que você é a mulher da minha vida. Faço tudo para preservar nosso casamento. - Eu não acredito! Você me enganou!? - Rita, por favor, escute. Eu errei, mas foi a única vez que te trai. - Foi só eu virar as costas e você me apunhalou? Você é um cretino! Um cínico! - Não é bem assim. Sei que foi uma atitude inconsequente, irresponsável de minha parte, mas naquela época eu não tinha maturidade para pensar assim. Fui levado pela atração e não resisti. - Vocês homens são todos iguais! Eu dediquei meu amor a você esses anos todos. - Rita, eu já te disse, foi um ato impensado. Você sabe que sou fiel. E, tem mais, logo que vocês chegaram da viagem, ela pediu demissão sem justificativas. - Também pudera! Era o mínimo que ela deveria fazer. - Rita, acalme-se e me ouça. Quando Raquel me procurou para dizer que eu era o pai de Henrique fiquei surpreso, mas decidi contar tudo a ele e, juntos decidimos fazer o teste de DNA. – Levando a mão ao bolso, retirou o envelope e O entregou à esposa. – Está aqui o resultado. Em prantos, Rita abriu o envelope e leu: - Então o filho, que sempre tive como meu, é filho seu e da empregada? - Eu não sabia da verdade, juro que não sabia! - Deixe-me só! – Disse Rita pedindo a José Paulo que se retirasse do quarto. Pela primeira vez, em mais de vinte anos de casamento, dormiriam em quartos separados. José Paulo ficou a esperar pelos filhos na sala de estar. Quando chegaram, o pai contou-lhes que havia dito a verdade à esposa. Marina e Henrique queriam falar com a mãe, mas José Paulo aconselhou-os a não perturbá-la. Rita chorou a noite toda. A traição do marido, mesmo que há dezoito anos, transpassou-lhe a alma como um instrumento cortante, desestruturando uma vida inteira. Ela, que criara o filho como sendo seu, agora tinha a certeza de que criara o filho do marido. Acreditava que ele desconhecia a verdade até o momento, mas não admitia a traição. Pela manhã, comunicou à família que gostaria de passar o fim de semana na fazenda de um tio, no interior do Estado. Queria ficar só. - Mãe, eu amo você! Isso não muda nada para mim. – Henrique abraçou a mãe confortando-a. - Meu filho, apesar de ser fruto de uma traição, você é meu filho querido, e este sentimento não vai mudar. Porém, em relação a atitude de seu pai, preciso esquecer para sentir que perdoei. E o perdão é um ato que requer tempo e reflexão. Preciso ficar só, pensar em tudo e colocar meus pensamentos em ordem. Acho que tenho este direito, não? Os filhos concordaram e José Paulo também não se manifestou contrário, pois sabia o quanto a esposa gostava de ficar só para pensar e fazer as suas orações, antes de tomar qualquer decisão. Durante todo o fim de semana José Paulo não saiu de casa. Henrique e Marina aproximaram-se ainda mais de Raquel e de seus amigos. No domingo, foram almoçar com dona Luiza e Henrique lhe contou que o pai já havia revelado a verdade à mãe. Ela sentiu um certo alívio. O passado estava esclarecido. Na sua cabeça, agora poderia morrer em paz, pois já havia cumprido a sua missão: além de ter dado uma boa educação a sua filha, conseguiu revelar uma verdade que ocultara por muitos anos. Mas o que ela não sabia era que o alívio que sentia poderia ser o caminho para a sua cura. Luiza estava reagindo melhor ao tratamento.

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Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 9 - Doar ou não doar? Eis a questão... Embora Luiza estivesse mais disposta, a doença estava avançando em seu organismo. Raquel não desistia, todos os dias, pedia a Deus que não deixasse sua mãe morrer e que Henrique a aceitasse como mãe. Continuava a divulgar sua campanha em prol da mãe. Mas, o trabalho roubava parte do seu dia. Rubens dava toda a atenção que ela precisava para se sentir fortalecida. Rita ficou o fim de semana na fazenda, tentando se refazer da decepção que tivera com o marido. Três dias foram poucos para esquecer. Voltou da fazenda, ainda com mágoa e ressentimentos, mas decidida que perdoaria o marido. Afinal, 22 anos de casamento não poderiam ser desconsiderados. Os filhos preferiram não falar do assunto e muito menos comentar sobre Raquel ou dona Luiza na frente de dona Rita, tentando evitar desgastes e emoções. Numa manhã, quando Henrique saía de casa, dona Rita perguntou-lhe sobre Luiza. Ele voltou, abraçou a mãe e disse-lhe que ela estava muito preocupada, pois já estava sabendo do que acontecera. Dona Rita perguntou: - E o que ela disse? - Mãe, ela se sente culpada pelo seu sofrimento. Disse-me que nunca teve a pretensão de voltar e contar a verdade sobre mim, mas que a doença acabou mudando o rumo da vida delas, pois Raquel descobriu parte desta história, que ela não teve como continuar escondendo. - Mas, então, vieram para Goiânia só porque estava doente e queria que você a salvasse? - Não só por isso. Raquel contou-me que, além de precisar de um transplante e considerar a hipótese de eu ser compatível, ela achava que a doença fora provocada por remorso do que fez, por ter me abandonado. Na cabeça dela, Deus estava cobrando-lhe que revelasse a verdade; só assim ela teria paz de espírito. - Embora eu esteja magoada, meu filho, acredito nisso. – Rita concluiu a conversa, beijando o filho. As lágrimas rolaram em sua face. Henrique despediu-se da mãe e saiu. Quando Rita entrou em casa o telefone tocou. Era do Banco de Medula e a atendente informava-lhe que o resultado do exame estava pronto, que ela era compatível com uma paciente de Goiânia e que poderia, caso desejasse, ser sua doadora. Rita não perguntou sobre a paciente, mas comprometeu-se a passar na clínica para buscar os resultados. Agora, eram mãe e filho doadores compatíveis e com possibilidades de “fazerem o bem, sem olharem a quem”. Henrique já havia concordado em viajar para São Paulo, a fim de fazer o transplante que salvaria a vida de Jefferson Paiva, um jovem de 25 anos com a mesma doença de dona Luiza. O rapaz se comprometeu em arcar com as despesas da viagem de Henrique, já que o seu estado de saúde o impossibilitava de viajar até Goiânia. Rita foi à clínica buscar o resultado que lhe foi entregue pelo doutor Renato. Ficou em choque quando soube que sua receptora seria “Luiza Silva, paciente em estado avançado de Leucemia, sangue O+, 46 anos de idade, residente em Goiânia - fazia parte das regras internas do Banco de Medula esclarecer dúvidas sobre os procedimentos do transplante, e informar sobre o perfil do receptor, caso o doador fosse compatível. Doutor Renato que sabia do relacionamento das duas, esperava que a reação dela fosse de felicidade pela descoberta, mas não foi o que aconteceu. - Como, doutor? Eu? Doadora para salvar a vida dela? Isso não é possível! Deus quer me testar. Um misto de raiva e compaixão invadiu os pensamentos de Rita. Ela chorava e o doutor Renato tentou acalmá-la. - O que está acontecendo? - Doutor, o senhor ainda não sabe parte da história. Lembra-se de que a Luiza estava com esperanças de que o Henrique, que na verdade é filho biológico dela, fosse o doador compatível? - Sim. - Então, esta semana fiquei sabendo do resto da história: meu marido traiu-me e dessa traição nasceu o Henrique, que ela acabou abandonando na porta de minha casa, pois não tinha como criá-lo. Mas, amo meu filho e sou capaz de dar minha vida por ele, mesmo que não tenha saído de meu ventre. - Dona Rita, eu não tenho palavras e não vou julgar os erros de seu marido e nem de minha paciente. O que está em jogo é a vida de uma mulher que já sofreu muito. Ela envolveu-se com seu marido e dessa relação nasceu seu filho. Você o criou, deu-lhe amor, educação, saúde, enfim, é a mãe do garoto. Em compensação, ela conviveu com a ausência do filho por 18 anos. Mesmo que Henrique considere dona Luiza como mãe, não vai amá-la como ama a senhora, pois o que une as pessoas, a família é o amor, o respeito mútuo, a convivência, e isso, foram vocês que deram a ele. - Mas, doutor... - Escute-me, independente de quem seja a receptora, o que importa, neste momento, é a sua decisão em relação à vida dela. Observe que você deu uma formação a seu filho que logo se prontificou a ser o doador daquele jovem de São Paulo. Como a senhora vai justificar, caso decida por não ajudar a mulher que deu a vida a ele e, ainda, proporcionou-lhe criá-lo? Pense nisso, decida-se e me ligue! Não vou disponibilizar essa informação, enquanto a senhora não se decidir. - Faça isso, doutor. Preciso desse tempo. Dona Rita estava confusa. Precisava conversar. Passou no Shopping e desabafou com a irmã. Ela a aconselhou que fizesse o que o coração mandasse. - Rita, você é quem decide, mas no seu lugar, eu não pensaria duas vezes. Pense no Henrique e na própria Luiza. Você conseguiria dormir em paz o resto de sua vida, se ela morresse? – Dona Rosana foi firme e coerente. - Credo, Rosana! Não fale isso nem de brincadeira. - Então, decida-se pelo bem! Ao chegar em casa, Rita encontrou Henrique no quarto acessando os sites da campanha em prol de dona Luiza. A mãe ficou observando e perguntou: - Tem visto a Luiza e a Raquel, Henrique? - Sim, mãe. Hoje estarei com a Raquel, fiquei de olhar os sites e de passar no Banco de Medula mais tarde, para ver se temos notícias. Neste momento, Rita estremeceu, mas sabia que o doutor Renato não contaria nada. E não contou mesmo. Uma semana depois, dona Luiza teve uma crise, as quimioterapias já não estavam adiantando mais. Necessitava urgentemente do transplante. Doutor Renato conversou com o doutor Marcílio e decidiram que internariam dona Luiza, mas antes preferiram conversar com dona Rita. Ela havia conversado com o padre de sua igreja que a aconselhou a contar, primeiramente, ao marido sobre seu dilema. Ele poderia ajudá-la, afinal, os dois tinham uma história de cumplicidade e companheirismo. Naquela noite conversaram muito. Rita contou a José Paulo que poderia ser a doadora de Luiza, mas estava indecisa. O marido não hesitou em dar sua opinião a favor do transplante, Rita o perdoou e resolveu que faria, sim, a doação a Luiza. Na manhã seguinte, o telefone tocou logo cedo, era doutor Renato. Dona Rita nem o deixou falar. Disse-lhe que faria a doação, mas queria ser, ela própria, a dar a notícia para todos. Ele consentiu. Rita combinou uma visita à casa de Luiza com Henrique e Marina. José Paulo achou melhor não ir. Naquela tarde, Raquel não foi trabalhar para esperá-los. Ela vivia momentos estressantes, pois sabia do conflito vivido por dona Rita com a descoberta da traição do marido e da paternidade de Henrique. Mesmo assim não desanimava, sempre encontrava força e coragem, sua determinação era incrível! Sentia que tudo daria certo. O otimismo invadia sua alma. O quarto de Luiza era pequeno, mas acomodou todos os presentes: Raquel, Rita, Marina, Henrique, Rosana e a tia Zilda. Rita pediu muito silêncio e disse: - Luiza, eu vim aqui para trazer-lhe boas notícias. Você sabe que José Paulo contou-me toda a verdade? - Sei, sim, e peço-lhe perdão! - Calma, escute-me! Você já está perdoada. Eu quero esquecer este episódio e sei que só não o esquecerei totalmente por causa de Henrique: um presente de Deus. Amo meu filho e sei que não foi por falta de amor que você abriu mão de criá-lo. Ele agora tem duas mães. Eu e meu marido conversamos muito esta noite, eu entendo que Deus tinha um propósito para nossas vidas e ainda o tem. Henrique segurou a mão de Raquel e os dois se apoiaram. - Antes da minha conversa com José Paulo sobre a paternidade de Henrique, fui até o Banco de Medula, sensibilizada com a atitude do meu filho em ser doador, e fiz os exames. Logo em seguida José Paulo revelou-me que era o pai de Henrique, aí o mundo desabou sobre mim. Eu fiquei muito chateada e fui para a fazenda refletir. Quando voltei, doutor Renato chamou-me à clínica para contar sobre o resultado dos exames. Na hora não pude acreditar! Como não acredito até agora. - Fale logo, mãe! – Interrompeu Henrique. - O resultado do exame acusou compatibilidade do meu sangue com uma paciente aqui em Goiânia, e essa paciente é você, Luiza! – Rita disse isto calmamente, enquanto os outro já estavam em prantos. As lágrimas eram de felicidade! Raquel levantou-se e abraçou dona Rita. - Nem acredito! Isso é um milagre! – Raquel estava emocionada. Dona Luiza ficou sem palavras. - Luiza, eu não esperava ser compatível. Mas, por obra de Deus, estou aqui e vou ser doadora para tentar salvar a vida da mãe de meu filho. Quero vê-la de pé e saudável. O Doutor Renato marcará o transplante. Tia Zilda levantou-se e, humildemente, agradeceu dona Rita. Mal a visita terminou, Raquel telefonou para todos os amigos. Rubens foi o primeiro da lista. A felicidade da menina era visível, seu rosto estampava uma alegria contagiante. Dona Rita, Rosana e Marina foram embora. O filho ficou para curtir a alegria com Luiza e Raquel, ele também estava muito feliz. Aquela tarde foi de êxtase puríssimo! Henrique e Raquel marcaram com os amigos de se encontrarem no final da tarde para contar-lhes a novidade. Resolveram ir ao cinema no shopping. Era a primeira vez que Raquel respirava aliviada. E, agora não eram mais seis amigos partilhando momentos agradáveis. Eram três casais de namorados: Paulo César e Carolina, Rubens e Raquel, e como era de se esperar, Ana e Henrique, que trocaram o primeiro beijo, assistindo a um filme romântico, depois lancharam e se permitiram sentar numa praça descontraidamente. Formavam agora, três belos e jovens casais de namorados. O dia do transplante chegou. O relógio parecia estar de mal com Raquel, batia lentamente e as horas não passavam, contrariando a ansiedade de todos. Na sala de espera não faltou ninguém: Raquel e Henrique ficaram juntos o tempo todo, Rubens e Ana apoiavam os irmãos, José Paulo e Marina oravam por Rita e por dona Luiza. Dona Rosana, tia Zilda, Márcio, Paulo César e Carolina também não deixaram de pedir a Deus pelas vidas de Luiza e Rita. Terminada a intervenção cirúrgica, doutor Renato e doutor Marcílio, que tinham tornado-se uma dupla por afinidade, foram dar a notícia: - Correu tudo bem. Agora, é aguardar a recuperação de ambas. - Doutor, minha mãe está curada? – Perguntou Raquel. - Somente no pós-operatório e com novos exames saberemos os resultados. Em alguns casos o transplante cura, em outros casos há reincidência. Não acreditamos que isso aconteça com a sua mãe. No caso dela, a Leucemia tem cura com apenas um transplante. Vamos acreditar nisso, Raquel.! - Sim, vamos. Depois de alguns dias no hospital, dona Luiza, finalmente, voltou para casa. Tia Zilda cuidou dela durante os dias de recuperação, revezando com Raquel e Henrique, que não se eximiu da função de filho. Para satisfação dos amigos virtuais, Henrique e Raquel colocaram na comunidade do Orkut que a mãe havia conseguido uma doadora e que realizara o transplante com sucesso. Agora só faltava a confirmação dos exames para saber se havia obtido a cura ou não. Repetiram essa notícia no site “QUEM PROCURA, ACHA” e no blog “CÂNCER MATA” com uma ressalva ao fim da mensagem: “Câncer tem cura!” Mesmo com a mãe em fase de recuperação, Henrique não escondia sua paixão por Ana e pelo Goiás Futebol Clube (GFC). Ganhou, de seu amigo Daniel, entradas para o clássico Vila Nova X Goiás no estádio Serra Dourada. Não deu outra! Convidou a namorada para assistirem ao jogo. O namoro dos dois era saudável, ambos se preocupavam com o futuro. A moça incentivou-o a cursar medicina em Oxford, na Inglaterra, pois sonhava fazer Arquitetura no exterior. Sabia que ele tinha os pré-requisitos exigidos pela universidade. Henrique gostou da idéia e prometeu pensar no assunto, pois, no momento, estava preocupado com a recuperação de dona Luiza. - O problema de saúde da minha mãe é realmente muito delicado! Mas, agora, vejo que poderemos respirar aliviados, tenho esperança nos resultados dos exames pós-operatórios. Sabe o que admiro? - O quê? – Perguntou Ana. - A história da minha irmã Raquel é fascinante! Ela é uma filha muito dedicada. Se existe algo que defina companheirismo, Raquel é a definição. Se uma mãe quer um filho exemplar, este filho não precisa ser como a Raquel, mas que seja ao menos um pouco do que ela é, pois, é uma menina incrível! - Todos que a conhecem dizem a mesma coisa, ela tem carisma e enfrenta dificuldades com tanta simplicidade que espanta a todos. Não perde as esperanças em nenhum momento. Eu gosto de ser amiga dela. Em poucos dias, dona Luiza já estava de pé. Recuperada ficou ansiosa por fazer os novos exames que indicariam seu estado atual.