sábado, 9 de julho de 2011

O Acordo

ÁLVARES, Shirlene


O meu avô era um homem muito esperto, muito sério e rigoroso. Só pra vocês terem uma idéia ninguém na casa dele almoçava enquanto ele não chegasse do trabalho.
Um dia, todos os meus tios e tias, e também o meu pai, cansaram de tanto esperá-lo. Imaginem vocês, que meu avô tinha dezesseis filhos e todos estavam em casa naquele dia. E com muita fome!
A história que eu vou contar é do tempo em que meu avô era Delegado de Jaraguá. Mas, ele não era um delegado bravo não. Ele era bonzinho, porém muito respeitado, pois sempre conseguia resolver as demandas que lhe apareciam.
Pois bem, naquele dia, ele havia saído para resolver uma demanda complicada que acontecera atrás da serra.
O seu Manuel e o seu Onofre eram dois vizinhos de chácara. O seu Manuel tinha uma plantação de milho e o Seu Onofre criava porcos. Acontece que os porcos do seu Onofre não davam sossego para a plantação de milho do seu Manuel. Então, seu Manuel foi até a acidade fazer queixas dos tais porcos para o meu avô.
Meu avô até que tentou resolver o caso com uma conversa amigável, mas não adiantou!
Foi por isso que naquele dia, ele pediu ao meu pai que fosse até a fazenda, que ficava só a dois quilômetros da cidade, e arriasse a mula Pretinha e a trouxesse na carroça.
- Por quê? – todos perguntaram.
E antes de sair ele disse:
- Hoje eu resolvo o caso do seu Manuel com o seu Onofre.
Então, lá foi ele para trás da serra. A hora do almoço chegou e meu avô nada de chegar. Lá, pelas tantas, ele apareceu.
Eu acho que ele estava muito cansado e com muita fome, pois só se atreveu, antes de sentar-se à mesa, em dizer:
- Tunico, vá lá fora desarreia a mula Pretinha e os porcos você os coloque no quintal.
- Que porcos? – todos perguntaram em coro.
- Os porcos que eu comprei. O seu Manuel e o seu Onofre não fizeram acordo, eu comprei os porcos para acabar com a confusão!
Muitos anos depois, o meu pai se formara em Direito, e, anos depois foi convidado por um amigo seu, para ser tabelião de cartório em Rondônia, na cidade de Colorado do Oeste. Ele aceitou o convite. Nesta época, eu que já tinha quinze anos, fazia o magistério, para ser professora.
Meu pai mudou-se para Rondônia, só com meus dois irmãos.
Nas noites de calor em Colorado do Oeste, meu pai ficava sempre batendo papo com o juiz amigo dele, senhor Marcelino. E numa daquelas noites, meu pai contou-lhe o caso do meu avô. O senhor Marcelino riu demais...
- Mas o seu pai era um de-le-ga-do-zi-nho muito à-toa!
Passado algum tempo, o senhor Marcelino chegou à casa do meu pai, bem tarde, batendo na porta. Como todo mundo, meu pai achou que era notícia ruim, pois notícia ruim chega sempre fora de hora, mas não era. Meu pai acordou assustado! Foi quando, dando muitas gargalhadas, o senhor Marcelino contou que se lembrara do meu avô.
Naquele dia, ele foi até uma fazenda resolver uma demanda. O cavalo de um posseiro estava pulando a cerca para comer a plantação de arroz do vizinho, e, como eles não entravam num acordo, chegando a falar até em morte, o senhor Marcelino acabou comprando o cavalo para acabar com a confusão.
Do dia em que ouvi esta história da boca do meu pai, cheguei à conclusão que mais vale um acordo, do que uma boa demanda.


Bijuterias


Composição: João Bosco

Em setembro
Se Vênus me ajudar
Virá alguém
Eu sou de virgem
E só de imaginar
Me dá vertigem
Minha pedra é ametista
Minha cor, o amarelo
Mas sou sincero
Necessito ir urgente ao dentista
Tenho alma de artista
E tremores nas mãos

Ao meu bem mostrarei
No coração. Um sopro e uma ilusão
Eu sei
Na idade em que estou
Aparecem os tiques, as manias
Transparentes Transparentes
Feito bijuterias
Pelas vitrines
Da Sloper da alma

Essa é a música de um(a) bom(boa) virginiano(a)...