quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Consulta ao médico


Um grande apreciador de copos (cheios, é claro!) vai ao médico, acompanhado de sua mulher.
- É, doutor, sinto náuseas, dores no corpo, boca seca, e etc...
- Você fuma?
- Uns cinqüenta cigarros por dia...
- ... Aí esta o problema, interrompeu o médico.
Pare de fumar imediatamente e voltará a ter uma saúde de ferro. Pode ir.
Já fora do consultório a sua mulher o interpela:
- Tu nunca fumaste um único cigarro. Por que a mentira?
- Se eu dissesse que não fumava ele iria perguntar se eu bebia ... e aí adeus vinhos, cervejas...

2 Loiras e o Fusca


Duas loiras estavam andando de fusca, até ele morreu . Elas foram até a frente do carro e abriram o capo.
Uma DELAS FALOU:
- POR ISSO QUE ELE NÃO FUNCIONA, ROUBARAM O MOTOR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Sogra apanhando


E o delegado, para o genro da vítima:
- Eu não consigo entender como é que o senhor, ao ver um homem agredindo a sua sogra, pôde permanecer de braços cruzados!
- Pois é, doutor!
Eu até que estava com vontade de fazer alguma coisa, mas...
- Mas, o quê?
- Achei que dois caras batendo numa velhinha seria muita covardia! 

Oferta de Emprego


Certo dia um homem resolve se inscrever-se em um concurso para locutor de rádio:
- O seu nome?
- Jo-jo-ão dda Ssssil-silva Ssantos.
- Ora meu senhor, como você espera participar de um concurso para locutor se você é gago?
- Não, gago era meu pai, e imbecil o escrivão que me registrou com esse nome!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Posse na Funcer em abril de 2009


Funções da Linguagem



Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo dos elementos da comunicação.

Elementos da comunicação

Emissor - emite, codifica a mensagem, quem fala.
Receptor - recebe, decodifica a mensagem, com quem se fala.
Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor, o que se fala.
Código - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem, ex: a língua pátria.
Referente - contexto relacionado a emissor e receptor, do que se fala.
Canal - meio pelo qual circula a mensagem.

As atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a comunicação.

Funções da linguagem

Função emotiva (ou expressiva)
Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor.

Função referencial (ou denotativa)
Centralizada no referente, quando a emissora procura oferecer informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos.

Função apelativa (ou conativa)
Centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, e, ainda, os vocativos e o uso imperativo. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.

Função fática
Centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e similares.

Função poética
Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas propagandas etc.

Função metalingüística
Centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente, os dicionários são repositórios de metalinguagem.

Em um mesmo texto podem aparecer várias funções da linguagem. O importante é saber qual a função predominante no texto, para então defini-lo.

Natã acusa Davi que se arrepende


Por isso o Senhor mandou o profeta Natã a Davi. Natã foi ter com Davi e lhe disse:
- Numa cidade havia dois homens, um rico e o outro pobre. O rico tinha ovelhas e bois em quantidade. O pobre só possuía mesmo uma ovelhinha pequena que tinha comprado e criado. Ela cresceu com ele e junto com os filhos, comendo do seu bocado e bebendo da sua taça, dormindo no seu regaço, em uma palavra: tinha-a na conta de filha. Chegou ao homem rico uma visita. Ele teve pena de tomar uma rês das suas ovelhas ou bois, a fim de preparar para a visita. Tomou a ovelhinha do homem pobre e a preparou para o visitante.
Davi ficou furioso com este homem e disse a Natã:
- Pela vida do Senhor ! O homem que fez isto merece a morte.  Ele pagará quatro vezes a ovelha por ter feito uma coisa destas, sem ter pena.
Então Natã replicou a Davi:
-Este homem és tu...! 

Bíblia Sagrada. 13. Ed. Petrópolis,Vozes, 1990. P. 345

Regras Gramaticais nº 8



Senhora Norma, a senhora PODE ESTAR RESPONDENDO a duas perguntas minhas?

- Por que o gerúndio é castigado duramente?

- O gerundismo é considerado um vício de linguagem?

Senhora Norma responde:

De acordo com a norma culta, a charge acima estaria correta, simplesmente assim: “... Redação avisa ao editor que hoje eu não vou fazer a charge.”  Assim como, “A senhora pode responder a duas perguntas?”
Para evitar o uso excessivo do gerundismo, basta eliminar o verbo auxiliar da locução verbal (estar respondendo) - (estar) = respondendo
e mudar o tempo do verbo principal que está no gerúndio para o infinitivo, respondendo para responder.
 resultado: pode responder

RESPONDENDO às duas perguntas: não é que o gerúndio seja abominável e castigado, pelo contrário, ele pode e deve ser usado para expressar uma ação em curso ou uma ação simultânea a outra, ou para exprimir a ideia de progressão indefinida. E é considerado por muitos como vício de linguagem, uma vez que seu uso é demasiadamente impreciso. 

Regras Gramaticais nº 7



Socorra-me, Senhora Norma. O Brasil não pode fazer vôo de galinha, porque galinha não voa.

Senhora Norma responde:

A galinha pode até voar, mas o Brasil nunca mais fará vôo nenhum, porque o hiato ‘oo’ não é mais acentuado. Nem o hiato ‘ee’.
 Regra antiga: enjôo, vôo, corôo, perdôo.
Como ficou: enjoo, voo, coroo, perdoo.

Regra antiga: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem.
Como ficou: creem, deem, leem, veem, descreem, releem.

Regras Gramaticais nº 6




Senhora Norma, é correto “óptimo”? Nunca escrevi assim?

Senhora Norma responde:

Fora do Brasil foram eliminadas as consoantes não pronunciadas:
ação, didático, ótimo, batismo
em vez de
acção, didáctico, óptimo, baptismo.

Regras Gramaticais nº 4



Senhora Norma, é tráfico ou trafégo de crianças?

Senhora Norma responde:

Na verdade, o tráfego de crianças que é crime, já que “tráfego” é uma palavra proparoxítona e o acento deve estar na sílaba “trá-”. 

O vocábulo tráfico é sinônimo de tráfego, que significa v. tr. e intr. 1. Fazer tráfego ou tráfico de algo. = comerciar, mercadejar, negociar; v. tr. 2. Percorrer, passar com grande lida. = galgar; v. intr. 3. Trabalhar muito. = lidar; 4. Andar no trânsito.

Regras Gramaticais nº 3




Senhora Norma, não seria “já passam de mil...”? Afinal, são muitos mortos.

Senhora Norma responde:

 A oração é: Em vinte dias de ataques, número de mortos na faixa de Gaza já passa de mil...
O sujeito do verbo “passar” é “número de mortos”.
O núcleo do sujeito é o substantivo “número”.
“... de mortos” é adjunto adnominal.
Portanto, o verbo passar deve concordar com o núcleo do sujeito que está no singular. O correto é “número” “passa de mil”.

Regras Gramaticais nº 2



A palavra infra-estrutura se escreve com ou sem o hífen?

Senhora Norma responde:

Segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, o hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal.
Como era: auto-afirmação, contra-exemplo, extra-escolar, infra-estrutura, neo-impressionista, semi-aberto.

Como ficou: autoafirmação, contraexemplo, extraescolar, infraestrutura, neoimpressionista, semiaberto.

Regras Gramaticais nº 5



Como pode, Senhora Norma, uma briga pela internet acabar em facadas?

Senhora Norma responde:

A manchete não está coesa e nem coerente. O que se sabe é que por causa de uma briga pela internet, um jovem de 16 anos foi esfaqueado pelo colega. Para evitar a falta de coerência textual, a manchete poderia ser reescrita:

ACABA EM FACADAS
UMA DISCUSSÃO
INICIADA PELA INTERNET

Regras Gramaticais nº 1



Qual é a forma correta “neste bolso” ou “nesse bolso”?

Senhora Norma responde:
Em Português, há três pronomes demonstrativos que apresentam suas formas variáveis em gênero e número e os invariáveis (isto, isso, aquilo).
Este, Esse ou Aquele demonstram a posição do objeto em relação às pessoas do discurso (emissor/receptor). Segundo as regras, não há muita rigidez na oralidade quanto ao uso do “t” no lugar do “s”, parece que tudo é (isso, essa, esse). Mas, vejamos seu emprego em relação ao lugar:
O lugar onde estou: este
O lugar onde você está: esse
O lugar distante do falante e do ouvinte: aquele

Então, como o político da charge acima fala se referindo ao próprio bolso, o correto é “neste bolso”. NESTE, NESSE e NAQUELE são contrações da preposição “em” + este = neste / “em” + esse = nesse / “em” + aquele + naquele.

DEUS NEGRO - Neimar de Barros


Eu, detestando pretos,
Eu, sem coração!...
Eu, perdido num coreto,
Gritando: "Separação"!

Eu, você, nós... nós todos,
Cheios de preconceitos,
Fugindo como se eles carregassem lodo,
Lodo na cor...
E com petulância, arrogância,
Afastando a pele irmã.

Mas
Estou pensando agora:
E quando chegar minha hora?
Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã!
Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,
Se eu chegasse lá e um porteiro manco,
Como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,
E eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei
Se a sua mão tateasse pelo trinco,
Como as mãos do cego que não ajudei!
Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei!
Se uma criança me tomasse pela mão,
Criança como aquela que não embalei
E me levasse por um corredor florido, colorido,
Como as flores que eu jamais dei!
Se eu sentisse o chão frio,
Como o dos presídios que não visitei!
Se eu visse as paredes caindo,
Como as das creches e asilos que não ajudei!
E se a criança tirasse corpos do caminho,
Corpos que eu não levantei
Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,
Que era vagabundagem, mas era fome!

Meu Deus!
Agora me assusta pronunciar seu nome!
E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,
Da prostituta que eu usei,
Ou do moribundo que não olhei,
Ou da velha que não respeitei,
Ou da mãe que não amei!...
Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,
Porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,
Sei lá, só dei desgosto!

E, no fim do corredor, o início da decepção!
Que raiva, que desespero,
Se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,
O maldito funcionário, e até, até o padeiro,
Todos sorrindo não sei de quê!
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.

Deus não está vestido de ouro! Mas como???
Está num simples trono:
Simples como não fui, humilde como não sou.

Deus decepção!
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara a cara, face a face,
Sem aquela imponente classe.

Deus simples! Deus negro!
Deus negro!?

E Eu...
Racista, egoísta. E agora?
Na terra só persegui os pretos,
Não aluguei casa, não apertei a mão.

Meu Deus você é negro, que desilusão!

Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão? Que nada!

Meu Deus você é negro, que decepção !

Não dei emprego, virei o rosto. E agora?
Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?
Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?

Deus, eu não podia adivinhar.
Por que você se fez assim?
Por que se fez preto, preto como o engraxate,
Aquele que expulsei da frente de casa!

Deus, pregaram você na cruz
E você me pregou uma peça:
Eu me esforcei à beça em tantas coisas,
E cheguei até a pensar em amor,

Mas nunca,
nunca pensei em adivinhar sua cor!...
  

Poesia Matemática - Millôr Fernandes



Às folhas tantas do livro matemático um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a do ápice à base uma figura ímpar; olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida paralela à dela até que se encontraram
no infinito.
- "Quem és tu?", indagou ele em ânsia radical.
- "Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode me chamar de Hi-po-te-nu-sa."
E de falarem descobriram que eram (o que em aritmética corresponde a almas irmãs) primos entre si.
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas sinoidais nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do Universo Finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E, enfim, resolveram se casar, constituir um lar, mais que um lar, um perpendicular.
Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissetriz. E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro sonhando com uma felicidade integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos. E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia.
Foi então que surgiu o Máximo Divisor Comum, freqüentador de círculos concêntricos, viciosos.  Ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.  Era o triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração, a mais ordinária. Mas, foi então, que Einstein descobriu a Relatividade e tudo que era espúrio passou a ser moralidade como, aliás, em qualquer sociedade.

TRAIÇÃO DE MINEIRO


O amigo chega pro Carzeduardo e fala:
- Carzeduardo, sua muié tá te traino co Arcide.
- Magina !!! Ela num trai eu não. Cê tá inganado, sô.
- Carzeduardo !!! Toda veiz que ocê sai pra trabaiá, o Arcide vai pra sua casa e prega ferro nela.
- Duvido !!! Ele num teria corage.
- Mais teve !!! Pode cunfiri.
Indignado com o que o amigo diz, o Carzeduardo finge que sai de casa, sesconde dentro do guarda-roupa e fica olhando pela fresta da porta.
Logo vê sua mulher levando o Arcide para dentro do quarto pra começar a sacanage.
Mais tarde, ele encontra com o amigo, que lhe pergunta o que houve.
E então, o Carzeduardo relata cabisbaixo:
- Foi terrive di vê !!!... Ele jogou ela na cama, tirou a brusa... E os peito caiu... Tirou a carcinha... E a barriga e a bunda dispencaro...
Tirou as meia... E apariceu aquelas varizaiada toda, as perna tudo cabiluda.
E eu dentro do guarda-roupa, cas mão no rosto, pensava: 'Ai... Qui vergonha que tô do Arcide!!!

A lenda do preguiçoso


Diz que era uma vez um homem que era o mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra. Ao nascer nem chorou, e se pudesse falar teria dito:
“Choro não. Depois eu choro”. Também a culpa não era do pobre. Foi o pai que
fez pouco caso quando a parteira ralhou com ele:
“Não cruze as pernas, moço. Não presta! Atrasa o menino pra nascer e ele pode crescer na preguiça e manhoso”.
E a sina se cumpriu. Cresceu o menino na maior preguiça e fastio. Nada de roça, nada de lida, tanto que um dia o moço se viu sozinho no pequeno sítio da família onde já não se plantava nada. O mato foi crescendo em volta da casa e ele já não tinha o que comer. Vai então que ele chama o vizinho, que era também seu compadre, e pede pra ser enterrado ainda vivo. O outro, no começo, não queria atender ao estranho pedido, mas quando se lembrou de que negar favor e desejo de compadre dá sete anos de azar...
E lá se foi o cortejo. Ia carregado por alguns poucos, nos braços de Josefina, sua rede de estimação.
Quando passou diante da casa do fazendeiro mais rico da cidade, este tirou o chapéu, em sinal de respeito, e perguntou:
“Quem é que vai aí? Que Deus o tenha!” “Deus não tem ainda, não, moço.
Tá vivo.”
E quando o fazendeiro soube que era porque não tinha mais o que comer, ofereceu dez sacas de arroz. O preguiçoso levantou a aba do chapéu e ainda
da rede cochichou no ouvido do homem:
“Moço, esse seu arroz tá escolhidinho, limpinho e fritinho?”
“Tá não.”
“Então toque o enterro, pessoal.”


E é por isso que se diz que é preciso prestar atenção nas crendices e superstições da ciência popular. 28 ESCOLA. CONTOS. Lenda recontada por Giba Pedroza,

Voltando da escola pra casa



O menino estava voltando a pé da escola. A vida para ele parecia uma coisa sempre igual. Chegar em casa, comer, fazer lição, brincar, tomar banho, jantar, dormir, acordar. No dia seguinte, tudo a mesma coisa outra vez. 
Um ruído veio de um terreno baldio. Parecia uma voz. Por entre as folhagens, o menino viu um cachorro cobrindo o focinho com as patas. O bicho, de repente, resmungou: 
— Isso não podia ter acontecido! 
O cabelo do menino ficou duro feito arame. Saiu correndo, mas parou. Onde já se viu cachorro falar? Deu risada de si mesmo. Já estava quase na 4a série. Sabia escrever, ler e fazer contas. Aquilo só podia ser alguma confusão. 
Deu meia volta e passou de novo pelo terreno baldio. O cachorro agora estava andando de uma lado para o outro dizendo: 
— Não, não e não! 
Quase sem respirar, o menino chegou mais perto. 
Foi quando o animal gritou: 
— É a pior desgraça que podia ter acontecido em minha vida! 
O menino sabia que aquilo era impossível. Mesmo assim, sentiu pena do cachorro, um bicho não muito grande com o focinho sujo de terra. 
O animal soltou um uivo tão sem esperança que o menino entrou no mato e perguntou se ele estava precisando de alguma coisa. 
Dois olhos surpresos examinaram o menino de alto a baixo. Depois, o bicho encolheu-se, escondendo o rosto com as patas. O menino sentou-se e acariciou aquela cabeça peluda. 
— Se eu contar o que acabo de descobrir hoje — disse o animal — você não vai acreditar. 
E continuou falando devagarinho: 
— Faz tempo, conheci uma cachorra linda. Eu estava fazendo xixi num poste. Ela passou. Abanei o rabo. Ela também. Foi amor à primeira vista. 
O menino não conseguia piscar os olhos. 
— No fim — continuou ele — a gente acabou se casando. A cachorra era viúva e tinha uma filha já grandinha. Cuidei dela como se fosse minha própria filha. Um dia, meu pai veio me visitar. Ele também era viúvo. Só sei que os dois gostaram um do outro, namoraram e casaram. 
O menino queria fugir e ficar. 
— Do casamento de meu pai com minha filha — contou o animal — nasceu uma ninhada de três cachorrinhos que, ao mesmo tempo, são meus netos, pois são filhos de minha filha, e meus irmãos pois são filhos do meu pai. Eu também tive três filhotinhos. Eles passaram a ser irmãos da minha madastra, a filha da minha mulher. Portanto, além de meus filhos, são meus tios. 
As lágrimas esguichavam dos olhos do cachorro. 
— Meu pai é casado com minha filha, ou seja, minha madastra é também minha filha. Por outro lado, sou pai dos irmãos do meu pai, logo, pai de meu próprio pai. E como o pai do pai de alguém é avô desse alguém … — e aí o cachorro agitou-se — descobri que sou avô de mim mesmo! 
O queixo do menino balançava debaixo da boca. 
— É duro ser avô da gente mesmo! — exclamou o cachorro em prantos. 
Abraçado com o menino, o animal chorou ainda durante um bom tempo. Depois, enxugou as lágrimas, pediu desculpas, despediu-se e, com ar agradecido, sumiu no matagal. Naquele dia, o menino chegou em casa mais tarde, almoçou e foi para o quarto. Deitado na cama, ficou só pensando. Como a vida pode ser uma coisa rica, complicada, meio louca, bonita, espantosa e cheia de surpresas!
Conto de Ricardo Azevedo extraído do livro  Não Tenho Medo de Homem, nem do Ronco, publicado pela Fundação Cargill Ilustrado por Paladino

Algumas Charges





Chatear e Encher

Um amigo meu me ensina a diferença entre «chatear» e «encher». Chatear é assim: você telefona para um escritório qualquer na cidade.
— Alô, quer me chamar, por favor, o Valdemar?
— Aqui não tem nenhum Valdemar.
Daí a alguns minutos você liga de novo.
— O Valdemar por obséquio.
— Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.
— Mas não é do número tal?
— É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar.
Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:
— Por favor, o Valdemar já chegou?
— Vê se te manca palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?
— Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.
— Não chateia.
Daí a dez minutos, ligue de novo.
— Escute uma coisa: o Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro dessa vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.
Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:
— Alô. Quem fala aqui é o Valdemar! Alguém telefonou para mim?

                                                 Paulo Mendes Campos

A Cegueira do Amor

Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da Terra.
Quando o aborrecimento havia reclamado pela terceira vez, a loucura, como sempre tão louca, lhe propôs.
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A intriga levantou a sobrancelha intrigada e a curiosidade sem poder conter-se perguntou:
- Esconde - esconde? Como é isso?
- É um jogo, explicou a loucura, em que eu fecho meus olhos, conto até um milhão enquanto vocês se escondem, quando eu terminar de contar começo a procurá-los, e o primeiro que eu encontrar ocupa o meu lugar no jogo.
O entusiasmo dançou, seguido pela euforia. A alegria deu tantos saltos que acabou convencendo a dúvida e até a apatia que nunca se interessavam por nada.
Mas, nem todos participaram; a verdade preferiu não se esconder.
- Pra quê se no final todos me descobrem? - pensou a verdade.
A soberba opinou que era um jogo muito tolo (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tinha sido dela) e a covardia preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três... começou a contar a loucura.
A primeira a se esconder foi a pressa que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra no caminho.
A subiu ao céu e a inveja se escondeu atrás da sombra do triunfo, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da mais alta árvore.
A generosidade quase não conseguiu se esconder, pois, cada local que achava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos, ao contrário do egoísmo, que encontrou um ótimo lugar só para ele.
A mentira se escondeu no fundo do oceano (mentira! Foi atrás do arco-íris).
O esquecimento, não me lembro onde se escondeu.
Quando a loucura estava lá no 999.999, o amor ainda não havia achado lugar para se esconder, pois todos estavam ocupados. Até que encontrou um roseiral e decidiu ocultar-se entre as rosas.
- Um milhão! - terminou de contar a loucura e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a pressa, apenas a três passos de uma pedra. Depois escutou a , discutindo com Deus sobre Zoologia.
Em um descuido encontrou a inveja e, claro, pôde deduzir onde estava o triunfo.
O egoísmo não precisou ser procurado, pois saiu correndo de seu esconderijo que era um ninho de vespas.
A dúvida foi mais fácil ainda, encontrou-a sentada em uma cerca sem decidir de que lado iria se esconder.
E assim foi encontrando a todos: o talento, nas ervas frescas; a angústia, em uma cova escura... apenas o amor não aparecia. Quando a loucura estava dando-se por vencida, encontrou um roseiral, pegou uma forquilha e começou a mover os ramos. No mesmo instante ouviu-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o amor nos olhos. A loucura não sabia o que fazer para desculpar-se, chorou, rezou, implorou e até prometeu ser seu guia.
Desde então, a amor é cego e a loucura sempre o acompanha.

domingo, 18 de dezembro de 2011

As Coisas que a Gente Fala - Ruth Rocha

As coisas que a gente fala
saem da boca da gente
e vão voando, voando,
correndo sempre pra frente.
Entrando pelos ouvidos
de quem estiver presente.
Quando a pessoa presente
É pessoa distraída
Não presta muita atenção.
Então as palavras entram
E saem pelo outro lado
Sem fazer complicação.
Mas ás vezes as palavras
Vão entrando nas cabeças,
Vão dando voltas e voltas,
Fazendo reviravoltas
E vão dando piruetas.
Quando saem pela boca
Saem todas enfeitadas.
Engraçadas, diferentes,
Com palavras penduradas.
Mas depende das pessoas
Que repetem as palavras.
Algumas enfeitam pouco.
Algumas enfeitam muito.
Algumas enfeitam tanto,
Que as palavras - que
Engraçado!
- nem parece as palavras
que entraram pelo outro lado
E depois que elas se espalham,
Por mais que a gente procure,
Por mais que a gente recolha,
Sempre fica uma palavra,
Voando como uma folha,
Caindo pelos quintais,
Pousando pelos telhados,
Entrando pelas janelas,
Pendurada nos beirais.
Por isso, quando falamos,
Temos de tomar cuidado.
Que as coisas que a gente fala
Vão voando, vão voando,
E ficam por todo lado.
E até mesmo modificam
O que era nosso recado.
Eu vou contar pra vocês
O que foi que aconteceu,
No dia em que a Gabriela
Quebrou o vaso da mãe dela
E acusou o Filisteu.
- Quem foi que quebrou meu vaso?
Meu vaso de ouro e laquê,
Que eu conquistei no concurso,
No concurso de crochê?
- Quem foi que quebrou seu vaso?
- a Gabriela respondeu
- quem quebrou seu vaso foi...
o vizinho, o Filisteu
Pronto! Lá vão as palavras!
Vão voando, vão voando...
Entrando pelos ouvidos
De quem estiver passando.
Então entram pelo ouvido
De dona Felicidade:
- o Filisteu? Que bandido!
que irresponsabilidade!
As palavras continuam
A voar pela cidade.
Vão entrando nos ouvidos
De gente de toda idade.
E aquilo que era mentira
Até parece verdade...
Seu Golias, que é vizinho
De dona Felicidade,,
E que é o pai do Filisteu,
Ao ouvir que o filho seu
Cometeu barbaridade,
Fica danado da vida,
Invente logo um castigo,
Sem tamanho, sem medida!
Não tem mais festa!
Não tem mais coca-cola!
Não tem TV!
Não tem jogo de bola!
Trote no telefone?
Nem mais pensar!
Isqueite? Milquicheique??
Vão acabar!
Filisteu, que já sabia
Do que tinha acontecido,
Ficou muito chateado!
Ficou muito aborrecido!
E correu logo pro lado,
Pra casa de Gabriela:
- Que papelão você fez!
Me deixou em mal estado,
Com essa mentira louca
Correndo por todo lado.
Você tem que dar um jeito!
Recolher essa mentira
Que em deixa atrapalhado!
Gabriela era levada,
Mas sabia compreender
As coisas que a gente pode
E as que não pode fazer;
E a confusão que ela armou,
Saiu para resolver.
Gabriela foi andando.
E as mentiras que ela achava
Na sacola ia guardando.
Mas cada vez mais mentiras
O vento ia carregando...
Gabriela encheu sacola,
Bolsa de fecho de mola,
Mala, malinha, maleta.
E quanto mais ia enchendo,
Mais mentiras ia vendo,
Voando, entrando nas casas,
Como se tivessem asas,
Como se fossem - que coisa!
- um milhão de borboletas!
Gabriela então chegou
No começo de uma praça.
E quando olhou para cima
Não achou a menor graça!
Percebeu - calamidade!
- que a mentira que ela disse
cobria toda a cidade!
Gabriela era levada,
Era esperta, era ladina,
Mas, no fundo, Gabriela
Ainda era uma menina.
Quando viu a trapalhada
Que ela conseguiu fazer,
Foi ficando apavorada,
Sentou-se numa calçada,
Botou a boca no mundo,
Num desespero profundo...
Todo mundo em volta dela
Perguntava o que é que havia.
Por que chora Gabriela?
Por que toda esta agonia?
Gabriela olhou pro céu
E renovou a aflição.
E gritou com toda força
Que tinha no seu pulmão:
- Foi mentira!
- Foi mentira!
Com as palavras da menina
Uma nuvem se formou,
Lá no alto, muito escura,
Que logo se desmanchou.
Caiu em forma de chuva
E as mentiras lavou.
Mas mesmo depois do caso
Que eu acabei de contar,
Até hoje Gabriela
Vive sempre a procurar.
De vez em quando ela encontra
Um pedaço de mentira.
Então recolhe depressa,
Antes dela se espalhar.
Porque é como eu lhes dizia.
As coisas que a gente fala
Saem da boca da gente
E vão voando, voando,
Correndo sempre pra frente.
Sejam palavras bonitas
Ou sejam palavras feias;
Sejam mentira ou verdade
Ou sejam verdades meias;
São sempre muito importantes
As coisas que a gente fala.
Aliás, também têm força
As coisas que a gente cala.
Ás vezes, importam mais
Que as coisas que a gente fez...
"Mas isso é uma outra história
que fica pra uma outra vez..."